domingo, 29 de novembro de 2020

LAMPIÃO RECEBEU O COMANDO DO BANDO NA DIVISA ENTRE JARDIM E SERRITA



O casal Napoleão Franco da Cruz Neves, da fazenda Carnaúba em São José do Belmonte, PE e Donana Neves do Jardim (Ana Pereira Neves, irmã do coronel Manoel Pereira Lins, o "Né da Carnaúba. Ao lado dela de terno escuro um dos vários Pereiras que se homiziaram em suas terras (segundo Dr. Napoleão estava se recuperando de ferimentos sofridos nas pelejas do Pajeú).

Atrás dele, Joaquim Pereira Neves, pai do Dr. e escritor Napoleão Tavares Neves.

Lampião recebeu o comando do bando de Sinhô Pereira, na fazenda Preá, pertencente ao Coronel Franco, e foi na fazenda Carnaúba, pertencente ao cunhado do Coronel Franco, que em 1926, Lampião recebera a carta do Do Floro Bartolomeu, com assinatura do padre Cícero Romão para ir até o Juazeiro do Norte e fazer parte dos Batalhões Patrióticos e lutar contra a Coluna Prestes.


A foto é de 1920.- Acervo: Leandro Cardoso Fernandes.

Postado por Kiko Monteiro às 12:53 


Fonte: Lampião aceso: Foto rarissima (lampiaoaceso.blogspot.com)


segunda-feira, 23 de novembro de 2020

OTACÍLIO ANSELMO

 


OTACÍLIO ANSELMO E SILVA - 110 ANOS

 

                Muitas dúvidas pairavam acerca da naturalidade de Otacílio. Alguns o davam, por certo, brejo-santense; outros, cratense; ouvimos, por fim, que se tratava de jatiense, o que nos foi confirmado em documento deixado pelo próprio autor, no seu discurso de posse no Instituto Cultural do Cariri:


                “Com efeito, nasci e dei meus primeiros passos no antigo povoado de Macapá, hoje cidade de Jati, quando aquela pequena povoação, banhada pelo riacho dos Porcos e vizinha de Pernambuco, era parte integrante do Município de Jardim.”


                Era o dia 09 de Dezembro de 1909. Cresceu e realizou seus primeiros estudos em Brejo Santo, onde o pai era um afamado boticário. A farmácia de João Anselmo e Silva era, com efeito, o reduto da intelectualidade daquela época, local onde o cidadão se mantinha informado do que acontecia no Cariri e no mundo.

                   Estudou no Colégio 24 de Abril, do Professor Lima Botelho, em Jardim, Ceará.

                Contemporâneo de importantes acontecimentos históricos, Otacílio Anselmo foi um cronista do seu tempo e das memórias deixadas na infância de um menino sertanejo, do sul do Cariri.


                Seguiu carreira militar, destacando-se na música, integrando a Banda de Música do 23º Batalhão de Caçadores, em Fortaleza. Ali,  foi colega de Luiz Gonzaga -  o Rei do Baião. Em 1935, fundou, na capital, o tradicional bloco carnavalesco Prova de Fogo.


                De volta ao Cariri, como capitão reformado do Exército Brasileiro, ocupou a cadeira de n. 7 do Instituto Cultural do Cariri, onde passou a se dedicar ao estudo da História da região, contribuindo incansavelmente em publicações da Revista Itaytera. Nesta, em 1956, escreveu o Esboço Histórico do Município de Brejo Santo. Nele, remonta desde a ocupação dos índios Cariris; a chegada do homem branco, perpassando pelo cangaceirismo da era imperial até a ascensão do coronelismo, no início do século XX, configurando-se em um importante registro da história, não só do município, mas de toda a região. É, sem dúvida, o registro de maior relevância, até hoje, para a cidade. Todas as obras vindouras necessariamente passaram, e hão de passar, pelas anotações deixadas por Otacílio.


                Narrando sua própria experiência, o autor escreveu, em 1957, a obra O Ceará e a Revolução de 30.



                Sua obra mais importante, publicada em 1968, Padre Cícero: Mito e Realidade, demorou oito anos para ser concluída e é leitura obrigatória sobre a polêmica do famoso milagre envolvendo o líder religioso, além de como se deram determinadas relações políticas no Cariri daquele tempo. 



Otacílio Discursa no lançamento da biografia Padre Cícero: Mito e Realidade (1968)


                Nessa famosa biografia, panorama dos problemas sociais do sertão, latifúndio,  fé e banditismo,  o autor comunga do mesmo entendimento do historiador brejo-santense Padre Antônio Gomes de Araújo, autor de O Apostolado do Embuste (1956), obra contestadora do milagre de Juazeiro e acusadora dos responsáveis.


                Otacílio defende que o aludido milagre foi, na verdade, uma armação, um truque químico engendrado pelo professor José Marrocos, íntimo amigo do padre Cícero. A alarmada hóstia em sangue, na boca da beata Maria de Araújo seria, na verdade, uma mistura de amido, saliva e fenolftaleína, dissolvendo-se rubra, na língua.


                Embora não seja uma obra definitiva sobre os acontecimentos – afinal, como ser definitivo em assunto que mexe tanto com a fé? -, o olhar de Otacílio sobre os acontecimentos trouxe um paradigma para que autores como Azarias Sobreira, Daniel Walker e Lira Neto, complementassem outras peças desse enigmático quebra-cabeças que é a figura desse líder religioso.

                Em 1972, rememorando histórias do velho sul do Cariri, o autor publica na Revista Itaytera, A Tragédia de Guaribas (1972), texto de profundo cuidado histórico, em que explora a política, o banditismo, o cangaceirismo e as feições do ineficiente Estado, que culminam com a morte do famoso Chico Chicote, em sua fazenda Guaribas, no ano de 1927, quando cerca de 300 homens, compostos pela polícia de três estados, reuniram-se para dar cabo do poderoso coronel.





                Otacílio Anselmo faleceu em 08 de janeiro de 1982. Está sepultado no Cemitério da Paz, em Fortaleza


Hérlon Fernandes Gomes



P.S.: Salvo engano, o Poder Legislativo de Brejo Santo carece de prestar merecida homenagem a Otacílio Anselmo. Não conheço nenhum nome de logradouro, ou biblioteca, algo que valha a inscrição de tão importante pessoa para nossa História.



Agradecimentos a Bruno Yacub e Antônio Marrocos Anselmo, neto de Otacílio Anselmo.

Bruno Yacub 

 

 

 

Fonte: 

A Munganga Promoção Cultural: OTACÍLIO ANSELMO E SILVA - 110 ANOS

Blog do Mateus Silva: OTACÍLIO ANSELMO E SILVA - 110 ANOS





A VILANIZAÇÃO DE JOAQUIM PINTO MADEIRA – UM GRANDE ERRO HISTÓRICO

 


Imagem meramente ilustrativa.

Embora inexistindo provas, Pinto Madeira foi condenação por assassinato. Crê-se que esse capcioso julgamento tenha tido, nas entrelinhas, a mão poderosa do governador José Martiniano de Alencar, muito embora este tenha reclamado oficialmente por não se ter dado a oportunidade de novo julgamento ao réu. (06)

Em que pese o pedido de apelação do querelado, o juiz secamente negou:

- Não tem apelo nem agravo, senhor Coronel, prepare-se para morrer que morre sempre. (07).

Em seguida, foi o condenado conduzido ao cárcere.

No dia seguinte, 28 de novembro de 1834, ao entardecer, ouviram-se o dobrar fúnebre dos sinos da igreja convidando os fiéis para acompanhar o preso até o bairro Vermelho, na cidade do Crato, para assistir à execução. Lá no alto, uma forca de aroeira fora erguida para o enforcamento do réu.

Francisco Pereira Maia de Guimarães, um dos presos de 1817 comandava a guarnição militar que levava o sentenciado para o cadafalso (08).

Ao chegar ao patíbulo, após se confessar perante os padres, Pinto Madeira se arvorando de sua condição de coronel da guarda nacional pediu a comutação da pena de enforcamento por fuzilamento.

Houve discrepância entre os julgadores. Uns queriam o enforcamento; outros o fuzilamento. Nesse ínterim, Francisco Pereira Maia de Guimarães empunhando uma espada foi taxativo:

- Pois, ou o réu é fuzilado, ou volta para a cadeia para apelar; também é expresso em lei! (09). Por fim o réu foi sentado numa cadeira, as mãos amarradas atrás, cingiram-lhe um lenço no rosto e cinco soldados se perfilaram para a execução. O sargento Braga gritou:

- FOGO!

Antes da descarga ouviu-se uma prece dita pelo sentenciado:

- Valha-me o Santíssimo Sacramento!

Deu-lhe o tiro de misericórdia o soldado Gonçalo Rolão.

                                                    Imagem meramente ilustrativa.


Morria assim o caudilho jardinense. Após sua execução, uma áurea de santidade envolveu sua pessoa por muito tempo. Esquecera o povo dos crimes e atrocidades por ele cometido, ficando, para a posteridade, apenas a injustiça praticada por não lhe ter dado o direito à apelação.

 

    Ilustração criada por José Márcio para o livro: "Cidade de Jardim, história ilustrada"

Curiosamente, quando Pinto Madeira chega preso ao Ceará, um dos seus maiores inimigos, o senador José Martiniano de Alencar, havia tomado posse como presidente da província cearense e não titubeou em enviar o dito preso ao Crato, para que fosse submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri.

Como é sabido, ao chegar à Vila do Crato, Pinto Madeira foi julgado erroneamente por crime comum (homicídio qualificado) em vez de crime de rebelião.

Assim, depois de ter sido condenado à forca, fora arbitrariamente executado, negando-se ao réu o direito de recorrer da sentença para que se fizesse novo júri na capital, em Fortaleza. Assim, a morte de Joaquim Pinto Madeira representava mais que o fim de um ciclo de intrigas político-pessoais, pois era, além disso, o momento de ascensão dos seus inimigos, os antigos independentistas, republicanos e liberais, os quais assistiram seus ideais se concretizarem paulatinamente.

É facilmente compreensível que os heróis escolhidos pela história oficial foram os vencedores, afinal, com o advento da Independência do Brasil (em 1822) e da República (em 1889), era necessário eleger ícones que representassem o período de luta pela consolidação das novas diretrizes político-sociais. Foi assim que os papéis se inverteram, pois, enquanto os republicanos eram beneficiados com o processo de heroicização, os monarquistas passaram de mocinhos a vilões.

Portanto, dentro da nova ordem política, a República, é evidente que um monarquista, a exemplo de Joaquim Pinto Madeira, não seria visto com bons olhos, ficando sua história a mercê da caneta dos vencedores. Decerto, esse foi o principal motivo para o monólogo de VILANIZAÇÃO DE PINTO MADEIRA, cujos resquícios ainda hoje são encontrados entre os intelectuais do Cariri, na maioria, herdeiros dos velhos clãs republicanos.

Desse modo, é de suma importância retirar do esquecimento a família Madeira do Cariri, a fim de que possam ser revelados detalhes capazes de explicar determinados fatos históricos.

 

 

TRECHOS DE TEXTOS PUBLICADOS NA REVISTA ITAYTERA NÚMERO 46, DE 2017. Autoria de  Fernando Maia da Nóbrega & Heitor Feitosa Macêdo.

 

Baseado nos livros de:

Irineu Pinheiro. História do Cariri volume I

Irineu Pinheiro. Joaquim Pinto Madeira

Irineu Pinheiro. Imprensa Oficial do Ceará

Paulino Nogueira, Execuções: Penas de Morte no Ceará (Parte II), In Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, Ano VIII, 1894.

Irineu Pinheiro, Efemérides do Cariri.

Irineu Pinheiro. O Cariri: seu descobrimento, povoamento, costumes.

Simone de Sousa. História do Ceará.

 

NOTA DO AUTOR DO BLOG.  

Ocorre então que a história oficial é diferente da história real. Pinto Madeira foi injustamente condenado, e mais injustamente classificado na história. Isso tanto se deve a historiadores elitistas que procuram dar uma versão para os fatos atendendo a seus interesses, como a pesquisadores preguiçosos que se contentam com tais versões, sem procurar as fontes originais, e principalmente, sem tentar compreender por que tais historiadores elitistas deram tal versão aos fatos.  

                Também há o orgulho ferido de alguns que se dizem historiadores, em dar o braço a torcer e admitir que levaram adiante, uma versão errada dos eventos.

                O verdadeiro historiador está definitivamente preocupado em mostrar a verdade histórica, seja ela qual for.

                Aqueles que modificam a história a seu bel prazer, não podem se dizer historiadores, e sim meros novelistas.

                Há que se corrigir este erro gigantesco.

DISCURSO A PINTO MADEIRA PROFERIDO NA REINAUGURAÇÃO DO CRUZEIRO DO SÉCULO EM CRATO

 

REINAUGURADA A CRUZ DO SÉCULO

          (Cruzeiro do Século em Crato, local onde Pinto Madeira foi fuzilado. Do Blog A Munganga)


 

          (Bairro Pinto Madeira em Crato. Foto de Dihelson Mendonça. Do Blog do Crato: 12/02/2014.)

No dia 11 de Junho de 1980, em brilhante solenidade, á noite, depois de uma procissão em que milhares de pessoas trouxeram, a pé, do Parque de Exposições, até ao primitivo local, foi re-inaugurada a Cruz do Século. O ato fez parte da programação do Jubileu de Ordenação Episcopal do Bispo Diocesano do Crato, Dom Vicente de Paulo Araújo Matos (25 anos). O local foi urbanizado e inaugurado pelo Prefeito Ariovaldo Carvalho. Assentada a cruz do século, pronunciaram-se ali dois discursos, que transcrevemos a seguir:

 

Discurso do Jornalista Lindemberg Aquino, representante do Município

 

Após oitenta anos em que aqui foi trazida pela católica população do Crato, para aqui ficar assinalando o ingresso da humanidade no Século XX, eis que volta hoje, a este mesmo local, devidamente urbanizado e transformado em panteon cívico do povo do Crato, a Cruz do Século.

É ela o símbolo expressivo da catolicidade da boa gente desta Terra, que nunca negou a sua formação religiosa.

É ela que traduz, na singeleza de sua madeira pobre, a mais genuína manifestação de fé do nosso povo.

Junta-se a ela, para fazer-lhe companhia, o marco simbólico do local em que foi executado o HERÓI JOAQUIM PINTO MADEIRA.

Por uma coincidência histórica, foi neste mesmo local, sobre este mesmo chão que pisamos neste instante, que aqui foi executado Pinto Madeira, em nome dos ideais de liberdade e da bandeira de lutas cívicas que ele empreendeu, em sua tormentosa existência.

Em 28 de Novembro de 1834 caia aqui, sob a ação do pelotão de fuzilamento, aquele que preferira dar sua vida à causa sacrossanta que abraçara.

Chegava ao fim uma existência de lutas e de estoicismos.

Pinto Madeira que combatera os sediciosos de 1817 e 1823.

Que combatera a Confederação do Equador, em 1824, por entender, fiel ao seu Rei, que, vingado o movimento, um corpo estranho, talvez uma nova Província, um novo país, saísse daqui, dividindo a unidade nacional que portugueses, índios e negros vincaram com seu sangue e seu sacrifício.

Pinto Madeira que voltou a guerrear em 31, por força do atavismo de sua formação democrática e liberal, ainda em defesa da unidade da Pátria, entregue às regências, depois da saída do Imperador.

O Panteon Cívico que a administração Ariovaldo Carvalho entrega, hoje, ao povo do Crato, deverá ser, doravante, o ponto de referência turística, no mapa cívico da cidade, local em que a cidade reverenciará o seu herói, à sombra da Cruz e eternizará a sua memória, envolta na lembrança do seu sacrifício.

Muito justa e oportuna a inclusão desta solenidade, nas Festas Jubilares do Senhor Bispo Dom Vicente.

A Igreja tem acompanhado o Crato desde os primórdios de sua história, na descoberta, colonização e povoamento do seu território, nos feitos épicos dos seus filhos, na educação de sua gente, testemunho de sua luta.

Nada mais justo do que a Igreja, hoje, presente aqui, em que a memória de Pinto Madeira e a recolocação da Cruz do Século marcam o  advento de uma obra urbanística que estava faltando, e que se completa com tudo isso, e essa celebração cívico-religiosa que tanto fala aos nossos corações.

De há muito, o INSTITUTO CULTURAL DO CARIRI pedia às autoridades a urbanização desta área, o seu aproveitamento, como ponto turístico.

O Prefeito Ariovaldo Carvalho chegou, enfim, para transformar em realidade a idéia desta praça, deste largo de tantas cintilações históricas na vida da cidade.

Em nome do mesmo Instituto, em nome da comunidade, aqui estamos para agradecer ao gestor da cousa pública.

E dizer-lhe que o seu nome também estará inscrito na nossa história, pela admirável administração que está fazendo e que devolve ao Crato todos os títulos de liderança a que esta Terra, de um passado tão ilustre, fez jús.

Muito obrigado, Senhor P refeito!

Neste instante, nossas almas se ajoelham no altar cívico que Vossa Excia. aqui plantou.

E rezam a oração do agradecimento, que sobe aos céus e eterniza nossa gratidão, em nome do Crato, em nome do seu povo, em nome de sua história!!!

 

 

 

DISCURSO PUBLICADO NA REVISTA ITAYTERA NÚMERO 25, DE 1981. PÁGINAS 191 E 192.

UMA VIDA MARTIRIZADA - A ESPOSA DE LEONEL DE ALENCAR

 

VINÍCIUS BARROS LEAL (Do Instituto do Ceará)

 

Uma Vida Martirizada

 

"Poucas existências há no Brasil tão cheias de vicissitudes como a sua" escrevia José de Alencar, em 1858, perfilando o seu ilustre pai. No entanto, com muito mais propriedade ainda, caberíam estas mesmas palavras, no pretérito, se a perfilada fosse a avó do romancista. Poucas pessoas sofreram tanto, passaram por tão duras provanças em seu pungente peregrinar.

Quatro anos antes, aos 70 anos, finara-se a desventurada velhinha, cercada por 4 dos 16 filhos e 18 dos 52 netos. Até então, toda a sua vida fora um constante tormento, amargurada por padecimentos morais que bastariam para encher de infelicidade a existência de qualquer mortal.

Nascida na Bahia, em Geremoabo, muito nova veio com a família para os sertões de Pernambuco, fronteiriços ao Ceará. Nessas Capitanias entrelaçavam-se os Carvalhos com os Alencares, e tinham interesses afins na criação de gado e na exploração agrícola.

João Pereira de Carvalho, homem respeitável e de cabedeais, era de caráter superior e honrado. Vindo com outros parentes para a zona caririense, logo mais foi envolvido nas lutas armadas então comuns no sertão, sendo assassinado em Salgueiro, juntamente com 1 filho e 1 fâmulo. Maria Xavier, com 11 anos, foi testemunha ocular do bárbaro crime, nada podendo fazer pelo pai na sua incapacidade de criança diante da estupidez de sicários malvados e atrevidos. A Justiça nada fez, era mesmo desconhecida nos recuados tempos nas ínvias e abandonadas brenhas do Nordeste. Esta foi a primeira marca da tragédia que iria ser a tônica da vida da avó de José de Alencar. Não se contentaram os criminosos só em matar os dois arrimos de família; perversos, incendiaram a residência do sertanejo e o que restou da fogueira foi roubado ou destruído. Nada escapou à sanha dos monstros insaciáveis.

Ficou Maria apenas na companhia de uma irmã mais velha, pois já eram órfãs quando se deu a cena de horror, em 1794.

Maiores males estavam para vir, se bem que, em vista da pouca idade das desamparadas meninas, não atinassem na extensão da desventura que as atingira.

Nos tempos passados casavam muito cedo as mocinhas e logo apareceu um parente que prometia tirá-la daquele mar de sofrimentos. Casou-se com o primo Leonel Pereira de Alencar, rapaz afável e de boa conduta, em princípios de 1801 e logo o casal passou a receber a homenagem e o acatamento devido a pessoas de trato e influência. Era inevitável a projeção do marido no meio. Tornou-se prestigioso e conceituado. A par disto, os negócios progrediram, tornando-se Leonel, chefe da família Alencar, rico e poderoso. Foi a única fase de ventura de D. Maria, mas durou pouco.

As insatisfações com a ligação do Brasil a Portugal eram já manifestadas desde alguns anos e os parentes mais remotos do casal já haviam contribuído com parcela de coragem e do próprio sangue para a formação de nossa nacionalidade. Desde a expulsão dos holandeses e a revolta dos Mascates vinha se desenvolvendo uma crescente agitação que atingiu o auge da comoção social nos acontecimentos de 1817. Os Alencares foram os precursores no Ceará, bem o sabemos. Envolvida, a família com a chegada de Recife do seminarista José Martiniano, a Revolução teve êxito no Crato, graças a influência de D. Bárbara, irmã de Leonel. Este, no entanto, não apareceu como elemento de prol, apesar de sua total adesão moral e material ao movimento.

No revés governista a perseguição foi sem trégua. Irmãos, sobrinhos e cunhados de Leonel foram algemados para prisões do Icó, da Capital e, por fim, para a Bahia. Leonel foge e escapa do fim trágico que o esperava com o seu nome na lista dos "muito culpados". Mais uma vez D. Maria prova um duro infortúnio. Desamparada, com 11 filhos pequenos, sofre o esbulho de todos os bens familiares e a angústia de uma provação indivisível. A nova Constituição promulgada livrou todos os patriotas presos e fugitivos. Leonel, em casa, retoma a direção dos seus arrasados negócios e durante algum tempo viveu em sossego. Mas, surgem as comoções de 1824.

Intitulando-se defensores do Trono e do Altar, realistas malvados desafiam os que pretendem uma Pátria completamente livre. Novamente Leonel toma a frente da grei, e em Jardim, onde residia e era Juiz Ordinário, é atacado pelos sequazes de Pinto Madeira, a 28 de setembro, sendo assassinado barbaramente com o seu filho Raimundo. D. Maria Xavier surge em cena, interpondo-se corajosamente entre os bandidos e o seu marido no desígnio de salvar-lhe a vida. Ferida, foge para o canavial, onde permanece escondida por dias seguidos, dando à luz aí a uma filha que foi a D. Clodes Jaguaribe. Sem ter tempo de enxugar as lágrimas derramadas pelos dois entes queridos é novamente atingida pela tragédia do assassinato de seu irmão Antonio Geraldo, também tombado às mãos de sicários, não sem ter praticado prodígios de destemor.

E os crimes se sucedem, todos atingidos diretamente a matrona. Treze parentes próximos foram sacrificados em poucos dias, dentre eles, sobrinhos e cunhados.

Não suportando mais ficar no Cariri, retirou-se, do cenário de barbáries, utilizando-se do expediente da dissimulação para escapar da sanha dos malvados. Refugiou-se em Fortaleza, onde passou ainda por outro terrível transe. Ana Josefina, sua filha, enamorou-se do primo José Martiniano e nada a demoveu de praticar o maior agravo à velha mãe. Jamais admitiu D. Maria, pelos seus severos princípios religiosos, a união da filha com o primo clérigo e reagiu como o faziam as sertanejas de seu tempo: afastou-se de qualquer convívio com o casal. E assim viveu até o seu último dia, a 6 de janeiro de 1854, quando faleceu no sítio Carrapixo, próximo de Messejana.

Entre os netos que deixou já se destacava José de Alencar. Clodes tornou-se a Viscondessa de Jaguaribe e outro neto, o Barão de Alencar. E muitos de seus descendentes assumiram as culminâncias das letras e da política no Império e na República.

Nos tempos atuais duas expressões enobrecem a descendência de D. Maria Xavier: o Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco e Rachel de Queirós. Rachel já nos brindou, há algum tempo, com uma página magistral, contando a saga de sua trisavô Joana Batista também sofrida nos rancores das rivalidades de famílias. Poderia ela oferecer-nos, do primor de sua pena, um perfil de sua sexta-avó vítima de ódios sanguinários, que desconheceu a Paz e a doçura e que morreu perdoando e amando os que não lhe quiseram demonstrar a força da bondade humana.   

 Texto publicado na Revista Itaytera, número 25, de 1981, nas páginas 65,66 e 67.


NOTA DO AUTOR DO BLOG. Depois de inúmeras pesquisas feitas em fontes confiáveis e originais, é preciso admitir que aa provação pela qual a espoa de Leonel de Alencar passou é real.

No entanto, o autor do texto se utiliza de termos que não condizem expressamente com a realidade dos fatos. Por exemplo, já está provado que Pinto Madeira não defendeu o retorno de D. Pedro I ao trono, que isso foi calúnia criada pelos liberais da época para justificarem suas atrocidades. A esposa de Leonel foi sim sofredora, mas muito do seu sofrimento se deu por situações desastrosas criadas por alguns liberais da época, que colocaram seus planos de vingança mesquinha, acima dos ideais republicanos.  

sábado, 14 de novembro de 2020

VIDA ECONÔMICA DO JARDIM NA DÉCADA DE 1940

 

1945 - VIDA ECONÔMICA DO JARDIM

 

                Os dados apresentados são do trabalho de Joaquim Alves, "O Vale do Cariri", publicado na Revista do Instituto do Ceará. Apresentaremos algumas informações relativas a Crato, Juazeiro e Brejo Santo apenas para efeito comparativo e de análise.           

                "Um dos traços mais fortes da vida do Vale do Cariri, é a subdivisão da propriedade agrícola, registrando-se no decurso de 22 anos, 1920-1942, acentuado índice subdivisionário:

 

Município

1920

1942

Diferença

Crato

269

785

516

Juazeiro

140

547

407

Jardim

271

994

723

Brejo Santo

171

1.430

1.259

 

                Jardim, com a maior superfície do Vale, pouco maior do que Crato 95 quilômetros, tinha, em 1920, 271 propriedades, apresenta-se em 1942, com 723. Localizado no extremo sul do estado, possui áreas mais extensas par criação, sendo limitados os seus brejos e as suas fontes perenes, deveria estar menos exposto à subdivisão territorial, mas a penetração continuada de elementos do Pajeú, Pernambuco, durante decênios, que se fixaram ao solo e adquiriram, inicialmente, as propriedades de criar, e posteriormente, sítios de brejo, forçou a subdivisão da propriedade em mãos de antigos agricultores sem ânimo para cultivar a terra, resultando um elevado índice subdivisionário, em relação a Crato, apresentando, no último censo um número de 452 propriedades a mais. (pág. 123)

                A vida econômica do Vale do Cariri firma-se na produção agrícola, sendo a cultura da cana a mais desenvolvida. Existem no seu território 300 engenhos, sendo 222 movidos a força motriz e 78, a força animal, assim distribuídos:

 

Municípios

Força Motriz

Força Animal

Total

Crato

34

40

74

Juazeiro

15

10

25

Jardim

25

7

32

Brejo Santo

15

------

15

               

               

                Os aviamentos para a fabricação da farinha de mandioca se elevam a 740, sendo:

 

Municípios

Total

Crato

179

Juazeiro

80

Jardim

52

Brejo Santo

77

 

                A  produção agrícola do Vale do Cariri, no biênio 1939-1940, atingiu, aproximadamente, os seguintes números:

 

1939

Município

Rapadura

   1 kg

Arroz 60kg

Farinha 60 kg

Milho 60kg

Feijão 60kg

Algodão

  1 kg

Crato

3.000.200

6.600

24.000

9.890

1.200

155.500

Juazeiro

1.119.600

5.000

1.000

13.600

13.600

224.000

Jardim

600.00

3.400

5.000

9.600

8.000

11.200

B. Santo

960.000

32.000

6.000

100.000

10.500

84.000

                Nesta ano de 1939, Jardim produziu 60.000 quilos de mamona. E em 1940 foram 1.200.000 quilos de mamona.

1940

Municípios

Rapadura

   1 kg

Arroz 60kg

Farinha 60 kg

Milho 60kg

Feijão 60kg

Algodão

  1 kg

Crato

5.130.960

8.320

70.000

14.945

660

291.200

Juazeiro

960.00

5.600

10.000

18.000

5.000

504.000

Jardim

1.260.000

5.000

9.500

18.400

8.000

111.888

B. Santo

10.000

24.000

5.200

92.000

5.200

168.000

 

1941

Municípios

Rapadura

   1 kg

Arroz 60kg

Farinha 60 kg

Milho 60kg

Feijão 60kg

Algodão

(arroba)

Crato

6.700.000

150

10.500

237

55

1.286

Juazeiro

1.200.000

222

8.700

950

409

1.500

Jardim

12.000

140

160.000

800

1.200

500

B. Santo

800.000

625

5.145

4.115

1.384

7.687

 

1942

Municípios

Rapadura

   1 kg

Arroz 60kg

Farinha 60 kg

Milho 60kg

Feijão 60kg

Algodão

(arroba)

Crato

------

100

-----

125

30

666

Juazeiro

800.000

93

12.000

400

175

750

Jardim

410.000

120

100.000

1.000

1.231

500

B. Santo

750.000

300

5.985

1.366

600

2.200

 

                A produção agrícola do biênio 1941-1942 sofreu um decréscimo, no último ano, em virtude da seca que assolou o Nordeste. Os números dizem melhor do que os comentários. A redução é compensada pelo aumento dos preços, embora o sofrimento dos operários rurais seja maior, acrescido pelo aumento ocasional da população, vinda dos sertões dos municípios vizinhos e dos estados limítrofes.

               

AS RENDAS DOS MUNICÍPIOS DO VALE

 

                O movimento das exatorias federais, estaduais e municipais, no triênio 1939-1941, revela a extensão dos negócios realizados pelas atividades comerciais e agropecuárias.

                Existem três coletorias federais: Crato, Juazeiro e Barbalha cuja arrecadação no referido triênio atingiu as importâncias de Cr$ 2.776.663,0 cruzeiros para o federal, Cr$ 5.075.908,0 para o estadual e 4.230.136,0 para o municipal.

                O Vale do Cariri realiza um crescimento econômico proporcional ao demográfico. As suas atividades não se detêm. O homem procura atender à necessidade sempre crescente da vida social desenvolvendo novas indústrias, explorando de modo eficiente as já existentes. (...)

                Aspecto interessante da vida econômica do Vale do Cariri é o preço dos tecidos, com uma diferença a menos sobre o da capital de 20% a 25%, o que explica as suas rendas avultadas nas exatorias, permitindo a existência de grande número de estabelecimentos comerciais em suas cidades e vilas, elevando-se a 1.047, sendo Crato com 298, Missão Velha, 190, São Pedro (Caririaçú), 49, Barbalha, 103, Juazeiro, 220, Jardim, 87 e Brejo Santo, 100.

                Os estabelecimentos industriais se elevam a 1.307. Crato possui 318, Missão Velha, 370, Caririaçú, 2, Barbalha, 128, Juazeiro, 152, Jardim, 157 e Brejo Santo, 200. É a este elevado número de estabelecimentos que o Vale deve a sua prosperidade econômica. (págs. 124-128)

                NOTA: Joaquim Alves é jardinense, e produziu este trabalho em 1945. Um questionamento que se deve fazer o cidadão jardinense  é, o que aconteceu de lá pra cá? Como um município com produção agrícola e industrial equiparada aos demais municípios da Região do Cariri, não conseguiu crescer do mesmo modo? Fica a pergunta, e que as futuras análises nos respondam tal questionamento.

 JOSÉ MÁRCIO DA SILVA

PADROEIROS DE JARDIM: BOM JESUS & SANTO ANTÔNIO

  1871 - PRIMEIRA IMAGEM DE SANTO ANTONIO                   "A primeira imagem de Santo Antonio, padroeiro dessa paróquia, foi ofer...