Imagem meramente ilustrativa.
Embora
inexistindo provas, Pinto Madeira foi condenação por assassinato. Crê-se que
esse capcioso julgamento tenha tido, nas entrelinhas, a mão poderosa do
governador José Martiniano de Alencar, muito embora este tenha reclamado
oficialmente por não se ter dado a oportunidade de novo julgamento ao réu. (06)
Em que pese
o pedido de apelação do querelado, o juiz secamente negou:
- Não tem
apelo nem agravo, senhor Coronel, prepare-se para morrer que morre sempre.
(07).
Em seguida,
foi o condenado conduzido ao cárcere.
No dia
seguinte, 28 de novembro de 1834, ao entardecer, ouviram-se o dobrar fúnebre
dos sinos da igreja convidando os fiéis para acompanhar o preso até o bairro
Vermelho, na cidade do Crato, para assistir à execução. Lá no alto, uma forca
de aroeira fora erguida para o enforcamento do réu.
Francisco
Pereira Maia de Guimarães, um dos presos de 1817 comandava a guarnição militar que
levava o sentenciado para o cadafalso (08).
Ao chegar
ao patíbulo, após se confessar perante os padres, Pinto Madeira se arvorando de
sua condição de coronel da guarda nacional pediu a comutação da pena de
enforcamento por fuzilamento.
Houve
discrepância entre os julgadores. Uns queriam o enforcamento; outros o
fuzilamento. Nesse ínterim, Francisco Pereira Maia de Guimarães empunhando uma
espada foi taxativo:
- Pois, ou
o réu é fuzilado, ou volta para a cadeia para apelar; também é expresso em lei!
(09). Por fim o réu foi sentado numa cadeira, as mãos amarradas atrás,
cingiram-lhe um lenço no rosto e cinco soldados se perfilaram para a execução.
O sargento Braga gritou:
- FOGO!
Antes da
descarga ouviu-se uma prece dita pelo sentenciado:
- Valha-me
o Santíssimo Sacramento!
Deu-lhe o
tiro de misericórdia o soldado Gonçalo Rolão.
Imagem meramente ilustrativa.
Morria
assim o caudilho jardinense. Após sua execução, uma áurea de santidade envolveu
sua pessoa por muito tempo. Esquecera o povo dos crimes e atrocidades por ele
cometido, ficando, para a posteridade, apenas a injustiça praticada por não lhe
ter dado o direito à apelação.
Ilustração criada por José Márcio para o livro: "Cidade de Jardim, história ilustrada"
Curiosamente,
quando Pinto Madeira chega preso ao Ceará, um dos seus maiores inimigos, o
senador José Martiniano de Alencar, havia tomado posse como presidente da
província cearense e não titubeou em enviar o dito preso ao Crato, para que
fosse submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri.
Como é
sabido, ao chegar à Vila do Crato, Pinto Madeira foi julgado erroneamente por
crime comum (homicídio qualificado) em vez de crime de rebelião.
Assim,
depois de ter sido condenado à forca, fora arbitrariamente executado,
negando-se ao réu o direito de recorrer da sentença para que se fizesse novo
júri na capital, em Fortaleza. Assim, a morte de Joaquim Pinto Madeira
representava mais que o fim de um ciclo de intrigas político-pessoais, pois
era, além disso, o momento de ascensão dos seus inimigos, os antigos independentistas,
republicanos e liberais, os quais assistiram seus ideais se concretizarem
paulatinamente.
É
facilmente compreensível que os heróis escolhidos pela história oficial foram
os vencedores, afinal, com o advento da Independência do Brasil (em 1822) e da
República (em 1889), era necessário eleger ícones que representassem o período
de luta pela consolidação das novas diretrizes político-sociais. Foi assim que
os papéis se inverteram, pois, enquanto os republicanos eram beneficiados
com o processo de heroicização, os monarquistas passaram de mocinhos a
vilões.
Portanto,
dentro da nova ordem política, a República, é evidente que um monarquista, a
exemplo de Joaquim Pinto Madeira, não seria visto com bons olhos, ficando sua
história a mercê da caneta dos vencedores. Decerto, esse foi o principal motivo
para o monólogo de VILANIZAÇÃO DE PINTO MADEIRA, cujos resquícios ainda
hoje são encontrados entre os intelectuais do Cariri, na maioria, herdeiros dos
velhos clãs republicanos.
Desse modo,
é de suma importância retirar do esquecimento a família Madeira do Cariri, a
fim de que possam ser revelados detalhes capazes de explicar determinados fatos
históricos.
TRECHOS DE TEXTOS PUBLICADOS
NA REVISTA ITAYTERA NÚMERO 46, DE 2017. Autoria de Fernando Maia da Nóbrega & Heitor Feitosa
Macêdo.
Baseado nos livros de:
Irineu Pinheiro. História do
Cariri volume I
Irineu Pinheiro. Joaquim Pinto
Madeira
Irineu Pinheiro. Imprensa
Oficial do Ceará
Paulino Nogueira, Execuções:
Penas de Morte no Ceará (Parte II), In Revista do Instituto do Ceará,
Fortaleza, Ano VIII, 1894.
Irineu Pinheiro, Efemérides do
Cariri.
Irineu Pinheiro. O Cariri: seu
descobrimento, povoamento, costumes.
Simone de Sousa. História do
Ceará.
NOTA DO AUTOR DO BLOG.
Ocorre
então que a história oficial é diferente da história real. Pinto Madeira foi injustamente
condenado, e mais injustamente classificado na história. Isso tanto se deve a
historiadores elitistas que procuram dar uma versão para os fatos atendendo a
seus interesses, como a pesquisadores preguiçosos que se contentam com tais
versões, sem procurar as fontes originais, e principalmente, sem tentar
compreender por que tais historiadores elitistas deram tal versão aos fatos.
Também há o orgulho ferido de alguns que se dizem
historiadores, em dar o braço a torcer e admitir que levaram adiante, uma versão
errada dos eventos.
O verdadeiro historiador está definitivamente
preocupado em mostrar a verdade histórica, seja ela qual for.
Aqueles que modificam a história a seu bel prazer,
não podem se dizer historiadores, e sim meros novelistas.
Há que se corrigir este erro gigantesco.