segunda-feira, 23 de novembro de 2020

A VILANIZAÇÃO DE JOAQUIM PINTO MADEIRA – UM GRANDE ERRO HISTÓRICO

 


Imagem meramente ilustrativa.

Embora inexistindo provas, Pinto Madeira foi condenação por assassinato. Crê-se que esse capcioso julgamento tenha tido, nas entrelinhas, a mão poderosa do governador José Martiniano de Alencar, muito embora este tenha reclamado oficialmente por não se ter dado a oportunidade de novo julgamento ao réu. (06)

Em que pese o pedido de apelação do querelado, o juiz secamente negou:

- Não tem apelo nem agravo, senhor Coronel, prepare-se para morrer que morre sempre. (07).

Em seguida, foi o condenado conduzido ao cárcere.

No dia seguinte, 28 de novembro de 1834, ao entardecer, ouviram-se o dobrar fúnebre dos sinos da igreja convidando os fiéis para acompanhar o preso até o bairro Vermelho, na cidade do Crato, para assistir à execução. Lá no alto, uma forca de aroeira fora erguida para o enforcamento do réu.

Francisco Pereira Maia de Guimarães, um dos presos de 1817 comandava a guarnição militar que levava o sentenciado para o cadafalso (08).

Ao chegar ao patíbulo, após se confessar perante os padres, Pinto Madeira se arvorando de sua condição de coronel da guarda nacional pediu a comutação da pena de enforcamento por fuzilamento.

Houve discrepância entre os julgadores. Uns queriam o enforcamento; outros o fuzilamento. Nesse ínterim, Francisco Pereira Maia de Guimarães empunhando uma espada foi taxativo:

- Pois, ou o réu é fuzilado, ou volta para a cadeia para apelar; também é expresso em lei! (09). Por fim o réu foi sentado numa cadeira, as mãos amarradas atrás, cingiram-lhe um lenço no rosto e cinco soldados se perfilaram para a execução. O sargento Braga gritou:

- FOGO!

Antes da descarga ouviu-se uma prece dita pelo sentenciado:

- Valha-me o Santíssimo Sacramento!

Deu-lhe o tiro de misericórdia o soldado Gonçalo Rolão.

                                                    Imagem meramente ilustrativa.


Morria assim o caudilho jardinense. Após sua execução, uma áurea de santidade envolveu sua pessoa por muito tempo. Esquecera o povo dos crimes e atrocidades por ele cometido, ficando, para a posteridade, apenas a injustiça praticada por não lhe ter dado o direito à apelação.

 

    Ilustração criada por José Márcio para o livro: "Cidade de Jardim, história ilustrada"

Curiosamente, quando Pinto Madeira chega preso ao Ceará, um dos seus maiores inimigos, o senador José Martiniano de Alencar, havia tomado posse como presidente da província cearense e não titubeou em enviar o dito preso ao Crato, para que fosse submetido a julgamento perante o Tribunal do Júri.

Como é sabido, ao chegar à Vila do Crato, Pinto Madeira foi julgado erroneamente por crime comum (homicídio qualificado) em vez de crime de rebelião.

Assim, depois de ter sido condenado à forca, fora arbitrariamente executado, negando-se ao réu o direito de recorrer da sentença para que se fizesse novo júri na capital, em Fortaleza. Assim, a morte de Joaquim Pinto Madeira representava mais que o fim de um ciclo de intrigas político-pessoais, pois era, além disso, o momento de ascensão dos seus inimigos, os antigos independentistas, republicanos e liberais, os quais assistiram seus ideais se concretizarem paulatinamente.

É facilmente compreensível que os heróis escolhidos pela história oficial foram os vencedores, afinal, com o advento da Independência do Brasil (em 1822) e da República (em 1889), era necessário eleger ícones que representassem o período de luta pela consolidação das novas diretrizes político-sociais. Foi assim que os papéis se inverteram, pois, enquanto os republicanos eram beneficiados com o processo de heroicização, os monarquistas passaram de mocinhos a vilões.

Portanto, dentro da nova ordem política, a República, é evidente que um monarquista, a exemplo de Joaquim Pinto Madeira, não seria visto com bons olhos, ficando sua história a mercê da caneta dos vencedores. Decerto, esse foi o principal motivo para o monólogo de VILANIZAÇÃO DE PINTO MADEIRA, cujos resquícios ainda hoje são encontrados entre os intelectuais do Cariri, na maioria, herdeiros dos velhos clãs republicanos.

Desse modo, é de suma importância retirar do esquecimento a família Madeira do Cariri, a fim de que possam ser revelados detalhes capazes de explicar determinados fatos históricos.

 

 

TRECHOS DE TEXTOS PUBLICADOS NA REVISTA ITAYTERA NÚMERO 46, DE 2017. Autoria de  Fernando Maia da Nóbrega & Heitor Feitosa Macêdo.

 

Baseado nos livros de:

Irineu Pinheiro. História do Cariri volume I

Irineu Pinheiro. Joaquim Pinto Madeira

Irineu Pinheiro. Imprensa Oficial do Ceará

Paulino Nogueira, Execuções: Penas de Morte no Ceará (Parte II), In Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, Ano VIII, 1894.

Irineu Pinheiro, Efemérides do Cariri.

Irineu Pinheiro. O Cariri: seu descobrimento, povoamento, costumes.

Simone de Sousa. História do Ceará.

 

NOTA DO AUTOR DO BLOG.  

Ocorre então que a história oficial é diferente da história real. Pinto Madeira foi injustamente condenado, e mais injustamente classificado na história. Isso tanto se deve a historiadores elitistas que procuram dar uma versão para os fatos atendendo a seus interesses, como a pesquisadores preguiçosos que se contentam com tais versões, sem procurar as fontes originais, e principalmente, sem tentar compreender por que tais historiadores elitistas deram tal versão aos fatos.  

                Também há o orgulho ferido de alguns que se dizem historiadores, em dar o braço a torcer e admitir que levaram adiante, uma versão errada dos eventos.

                O verdadeiro historiador está definitivamente preocupado em mostrar a verdade histórica, seja ela qual for.

                Aqueles que modificam a história a seu bel prazer, não podem se dizer historiadores, e sim meros novelistas.

                Há que se corrigir este erro gigantesco.

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