OTACÍLIO ANSELMO E SILVA - 110
ANOS
Muitas
dúvidas pairavam acerca da naturalidade de Otacílio. Alguns o davam, por certo,
brejo-santense; outros, cratense; ouvimos, por fim, que se tratava de jatiense,
o que nos foi confirmado em documento deixado pelo próprio autor, no seu
discurso de posse no Instituto Cultural do Cariri:
“Com
efeito, nasci e dei meus primeiros passos no antigo povoado de Macapá, hoje
cidade de Jati, quando aquela pequena povoação, banhada pelo riacho dos Porcos
e vizinha de Pernambuco, era parte integrante do Município de Jardim.”
Era
o dia 09 de Dezembro de 1909. Cresceu e realizou seus primeiros estudos em
Brejo Santo, onde o pai era um afamado boticário. A farmácia de João Anselmo e
Silva era, com efeito, o reduto da intelectualidade daquela época, local onde o
cidadão se mantinha informado do que acontecia no Cariri e no mundo.
Estudou no Colégio 24 de Abril, do Professor Lima Botelho, em Jardim, Ceará.
Contemporâneo
de importantes acontecimentos históricos, Otacílio Anselmo foi um cronista do
seu tempo e das memórias deixadas na infância de um menino sertanejo, do sul do
Cariri.
Seguiu
carreira militar, destacando-se na música, integrando a Banda de Música do 23º
Batalhão de Caçadores, em Fortaleza. Ali, foi colega de Luiz Gonzaga
- o Rei do Baião. Em 1935, fundou, na capital, o tradicional bloco
carnavalesco Prova de Fogo.
De
volta ao Cariri, como capitão reformado do Exército Brasileiro, ocupou a
cadeira de n. 7 do Instituto Cultural do Cariri, onde passou a se dedicar ao
estudo da História da região, contribuindo incansavelmente em publicações da
Revista Itaytera. Nesta, em 1956, escreveu o Esboço Histórico do Município
de Brejo Santo. Nele, remonta desde a ocupação dos índios Cariris; a chegada do
homem branco, perpassando pelo cangaceirismo da era imperial até a ascensão do
coronelismo, no início do século XX, configurando-se em um importante registro
da história, não só do município, mas de toda a região. É, sem dúvida, o
registro de maior relevância, até hoje, para a cidade. Todas as obras vindouras
necessariamente passaram, e hão de passar, pelas anotações deixadas por
Otacílio.
Narrando
sua própria experiência, o autor escreveu, em 1957, a obra O Ceará e a
Revolução de 30.
Sua obra mais importante, publicada em 1968, Padre Cícero: Mito e Realidade, demorou oito anos para ser concluída e é leitura obrigatória sobre a polêmica do famoso milagre envolvendo o líder religioso, além de como se deram determinadas relações políticas no Cariri daquele tempo.
Nessa
famosa biografia, panorama dos problemas sociais do sertão, latifúndio,
fé e banditismo, o autor comunga do mesmo entendimento do historiador
brejo-santense Padre Antônio Gomes de Araújo, autor de O Apostolado do
Embuste (1956), obra contestadora do milagre de Juazeiro e acusadora dos
responsáveis.
Otacílio
defende que o aludido milagre foi, na verdade, uma armação, um truque químico
engendrado pelo professor José Marrocos, íntimo amigo do padre Cícero. A
alarmada hóstia em sangue, na boca da beata Maria de Araújo seria, na verdade,
uma mistura de amido, saliva e fenolftaleína, dissolvendo-se rubra, na língua.
Embora
não seja uma obra definitiva sobre os acontecimentos – afinal, como ser
definitivo em assunto que mexe tanto com a fé? -, o olhar de Otacílio sobre os
acontecimentos trouxe um paradigma para que autores como Azarias Sobreira,
Daniel Walker e Lira Neto, complementassem outras peças desse enigmático
quebra-cabeças que é a figura desse líder religioso.
Em
1972, rememorando histórias do velho sul do Cariri, o autor publica na Revista
Itaytera, A Tragédia de Guaribas (1972), texto de profundo cuidado
histórico, em que explora a política, o banditismo, o cangaceirismo e as
feições do ineficiente Estado, que culminam com a morte do famoso Chico
Chicote, em sua fazenda Guaribas, no ano de 1927, quando cerca de 300 homens,
compostos pela polícia de três estados, reuniram-se para dar cabo do poderoso
coronel.
Otacílio
Anselmo faleceu em 08 de janeiro de 1982. Está sepultado no Cemitério da Paz,
em Fortaleza
Hérlon Fernandes Gomes
P.S.: Salvo engano, o Poder Legislativo de Brejo Santo carece de prestar
merecida homenagem a Otacílio Anselmo. Não conheço nenhum nome de logradouro,
ou biblioteca, algo que valha a inscrição de tão importante pessoa para nossa
História.
Agradecimentos a Bruno Yacub e Antônio Marrocos Anselmo, neto de Otacílio
Anselmo.
Bruno Yacub
Fonte:
A Munganga Promoção Cultural: OTACÍLIO ANSELMO E SILVA - 110 ANOS
Blog do Mateus Silva: OTACÍLIO ANSELMO E SILVA - 110 ANOS
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