"Merece registro a jardinense Hermínia Marques
Gouveia, que, não podendo ter filhos, buscou apoio no Juazeiro, tendo cuidado
do Padre Cícero durante uma enfermidade que o acometeu, em 1906, e feito a
promessa de construir uma capela para Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Ela
morreu após a capela ficar pronta, em 1908, e foi enterrada na nave, provocando
a ira das autoridades eclesiásticas, em guerra declarada contra o Juazeiro. A
Capela do Socorro abriga também os restos mortais do Padre Cícero, desde 1934,
e constitui uma referência para o povo romeiro."(Gilmar de Carvalho, p.14)
Quando em 11 de novembro de 1912 pelo
simples pedido do Pe. Cícero ao Dr. Justiniano de Serpa, Presidente do Ceará,
este mandou que a Assembleia restaurasse a Comarca do Juazeiro e assim
sucedeu, justamente no dia 11 de novembro de 1922. Nomeado logo após o Dr.
Jovêncio Joaquim de Santana para Juiz de Direito, tendo lugar a inauguração da
Comarca e posse do primeiro magistrado da Comarca no dia 24 de fevereiro de
1923, no dia de sábado, a uma hora da tarde, tendo no solene ato comparecido a
Câmara no lugar de costume, Rua São Pedro, o seu prefeito municipal Pe. Cícero
Romão Batista que empossou o referido Juiz de Direito. Presente toda Câmara e
mais todas as autoridades estaduais e federais e o Cel. Ernesto Medeiros,
comandante do Corpo de Polícia no Crato, representando o Governador do Estado;
Cel. Pedro Silvino de Alencar - Prefeito de Araripe; Deputado Estadual Dr.
Sebastião Azevedo, de Fortaleza; Vigário da Freguesia, Pe. Manoel Correia de
Macedo e grande cortejo da massa popular, inclusive famílias e comerciantes.
Declarou o Dr. Juiz de Direito, em palavras repassadas de civismo e patriotismo
que estava inaugurada a Comarca e ele, Juiz, empossado. Tomou a palavra o
Revmo. Pe. Cícero, pronunciando um discurso substancioso abrangendo todos os
pormenores do ato presente em frases variadas e muito significativas e bem
elaboradas. O eminentíssimo chefe e prefeito Padre Cícero Romão Batista que a
todos emocionou, não esquecendo de falar do civismo másculo do ex-Presidente
Dr. Epitácio Pessoa e, como do atual presidente da República Dr. Artur
Bernardes, não esquecendo de falar no amigo ausente Dr. Floro que o enalteceu,
sendo saudado por uma grande salva de palmas. Tocando na ocasião a banda de
música Padre Cícero brilhante dobrado e uma grande girândola de foguetes
estourou no espaço, estando o edifício da Comarca bem ornado com o devido
estilo, bandeira içada, sendo nesta ocasião inaugurados os retratos do Dr.
Epitácio Pessoa, Dr. Artur Bernardes - Presidente da República, Dr. Floro
Bartolomeu da Costa - Deputado Federal, ausente, nos trabalhos do Congresso
Federal. Usando da palavra o orador oficial, jornalista Dr. Leopoldino Costa
Andrade, jornalista da Folha no Rio de Janeiro, que muito de boa
vontade cooperou para o brilhantismo da festa em todos os seus detalhes,
pronunciando discurso escrito, bem elaborado a respeito do solene ato, trazendo
a baila o nome do Dr. Epitácio Pessoa, que muito enalteceu suas qualidades de
estadista emérito e criterioso, como do Dr. Artur Bernardes, sincero e
competente para o cargo que ocupa de Chefe da Nação, atualmente, e como do
Prefeito Municipal Pe. Cícero o que de melhor pode dizer, como do povo e
progresso da terra, lembrando-se também do amigo ausente Dr. Floro Bartolomeu
que em lisonjeiras palavras, bem o disse. E assim, depois de dissertar o seu
magistral discurso findou suas últimas palavras debaixo de uma grande salva de
palmas. Aí assomou a tribuna o vigário Macedo que dissertou um belo discurso
que muito agradou com suas bem elaboradas frases de sacerdote virtuoso e inteligente
ao grande auditório que muito o aplaudiu, e assim por diante outros usaram da
palavra com brilhantismo compreendendo bem o dever de oradores que falavam no
momento, muitas palmas e vivas ecoavam no grande salão do cerimonial.
Conservando-se o dia restante em festa seguida pela noite em casa do Dr. Floro
Bartolomeu onde o distinto Juiz Dr. Jovêncio Joaquim de Santana se achava
hospedado e mais amigos, e presente o Revmo. Pe. Cícero que a todos confortava
com a sua presença de justo. Ali postada a banda de música em suas harmoniosas
tocatas bem significava o Juazeiro em festa, do maior regozijo de um povo livre
e independente. Teve lugar em casa do mesmo Dr. Floro um lauto jantar às 5
horas da tarde do que todos os circunstantes serviram-se, oferecido pelo Revmo.
Pe. Cícero Romão Batista. Foram oferecidos exemplares do livro "Sertão a
Dentro" pelo autor Dr. Leopoldino Costa Andrade, do Rio de Janeiro. Obra
de algum valor para o Juazeiro defendendo o Revmo. Pe. Cícero das acusações
injustas que os inimigos gratuitos faziam com o mais descaro, nas conversações
pelos jornais do Rio de Janeiro. Foi desfeita essa maledicência caluniosa com o
"Sertão a Dentro". Parabéns ao Sr. Costa Andrade, jornalista da
"Folha" no Rio de Janeiro, jornalista inteligente. Ainda o cerimonial
da posse do Juiz de Direito: tirada uma comissão de pessoas da primeira classe,
acompanhada da banda de música, saímos da casa da Câmara, fomos ver em casa do
Dr. Floro Bartolomeu da Costa o Dr. Juiz de Direito e o Revmo. Pe. Cícero Romão
Batista, Prefeito Municipal distinto Dr. Jovêncio de Santana, o Juiz, o
primeiro magistrado da Comarca, então acompanhadas as duas autoridades por
grande número de amigos e admiradores e a banda de música Pe. Cícero, chegamos
ao salão da Câmara, com as honras de estilo foram recebidos Juiz e Prefeito
pelo corpo municipal, autoridades locais e muitos cavalheiros e senhoritas,
sendo recebidos por grande salva de palmas, sendo oferecida a cadeira de honra
ao Revmo. Pe. Cícero, o que recusou-se a princípio, porém, depois aceitou,
continuando a leitura da ata da inauguração da Comarca e posse do íntegro Dr.
Juiz de Direito, tudo com as formalidades do estilo. Depois lida em altas
vozes, foi assinada pelas autoridades competentes que ali se achavam. Depois do
ato solene foi servido todo auditório por uma cerveja regularmente distribuída.
Eis, em resumo, todo conteúdo da
inauguração da Comarca e posse do Juiz de Direito, no dia 24 de fevereiro de
1923. Na inauguração da Comarca, na fala que fez a respeito do ato, o Revmo.
Pe. Cícero Romão Batista falando sobre o Juazeiro disse com segurança que o
Juazeiro continha 56 ruas, com 30 mil habitantes, contendo em todo município 50
mil almas, e assim concluiu seu belo discurso deixando em todo auditório a mais
grata impressão.
(Extraído do livro Memórias de
um romeiro, Fausto da Costa Guimarães)
BIOGRAFIA DE DR. JUVÊNCIO
Juvêncio Joaquim de Santana -Bacharel
em Direito, Juiz de Direito e Desembargador. Filho do Coronel Antônio Joaquim
de Santana (chefe político do município de Missão Velha) e Josefa Maria de
Jesus, nasceu no dia 19 de janeiro de 1888, no Sítio Serra dos Matos, município
de Missão Velha, Ceará. Bacharelou-se em
Ciências Jurídicas e Sociais em 17 de dezembro de 1912,
pela Faculdade de Direito da Universidade Federal de Pernambuco. Nomeado aos 13
de janeiro de 1923, Juiz de Direito da Comarca de Juazeiro, da qual afastou-se
do cargo, para assumir a Secretaria do Interior e Justiça, no Governo do Dr.
José Moreira da Rocha. Juvêncio Santana na década de 20 foi professor do
Colégio 24 de Abril, de Jardim, Ceará, fundado pelo Dr. Francisco de Lima
Botelho, em 1916, tendo funcionado por sete anos. Lecionou Geografia, História
e História Natural. Juvêncio Santana casou-se com a jardinense Beatriz Barreto
Gondim, filha do casal José Caminha de Anchieta Gondim (de alcunha Coronel
Daudeth) e de Maria Barreto Gondim. A cerimônia aconteceu no dia 27 de janeiro
de 1916, em Jardim.
Não tiveram filhos. Adotaram como filhos, Ancilon Aires
de Alencar (Promotor de Justiça, radicado em
São Paulo, Capital) e Terezinha Gondim Medeiros, ambos
sobrinhos da D. Beatriz. Dr. Juvêncio era amigo incondicional e afilhado de
crisma do Padre Cícero. Foi eleito Deputado Estadual em 1928. Por vários anos
despendeu esforços pela prosperidade de Juazeiro e pelo benefício de seus
habitantes; muito respeitado e estimado por todos, desempenhou sua missão com
integridade de caráter. A 1.° de agosto de 1940, o Dr. Juvêncio foi mais uma
vez nomeado Juiz de Direito de Juazeiro do Norte, permanecendo no cargo, até o
dia 08 de setembro de 1957, quando veio a falecer, em Juazeiro do Norte, e
encontra-se sepultado no túmulo da Beata Mocinha, no cemitério do Perpétuo
Socorro, da referida cidade. Terminou sua brilhante carreira de Magistrado,
ocupando o elevado cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará. Foi o Desembargador Juvêncio Joaquim de Santana, um dos juízes mais
cultos do Estado do Ceará. Homem de envergadura moral ilibada, político de
bastante prestígio, autoritário, porém de fino trato, enfim, uma das figuras
mais importantes da história de Juazeiro do Norte. (Extraído do livro Dados
biográficos dos homenageados em logradouros públicos de Juazeiro do Norte,
de Raimundo Araújo e Mário Bem Filho)
Postado
por Daniel
Walkeràs 05:56 Em; sexta-feira, 21 de outubro de 2011.
Nascido no Sítio Cabeça do Negro, em 15 de maio de
1918. Filho de Antonio de Sá Roriz e Júlia Couto Roriz. Fez os estudos
primários em sua terra natal, o curso ginasial no Colégio Diocesano de Crato e
o científico no Liceu do Ceará. Em 1942 bacharelou-se pela Faculdade de Direito
do Ceará. Foi deputado estadual de 1950 a 1962 e deputado federal de 1962 a
1970. Como parlamentar empenhou-se, com êxito, para levar ao Cariri a energia
de Paulo Afonso. Apresentou na Câmara Federal projeto de lei para levar ao
Jaguaribe as águas do São Francisco. Em sua terra natal trabalhou para a instalação
do Ginásio Padre Miguel Coelho e da Unidade Mista de Saúde, que hoje tem o seu
nome. (Assim como a avenida principal de Jardim). Residia em Fortaleza, mas faleceu
em sua terra natal, quando para ali fora tratar de negócios. (Jardim: sua
história e sua gente, p.142)
Abaixo seguem informações coletadas na Câmara Federal.
Data de falecimento: 20/05/1974
Profissões: Advogado
Mandatos (na Câmara dos Deputados):
Deputado(a) Federal - 1963-1967, CE, PSD, Dt. Posse: 02/02/1963; Deputado(a) Federal - 1967-1971, CE, ARENA, Dt. Posse: 24/05/1967.
Licenças:
Licenciou-se do mandato de Deputado Federal, na Legislatura 1963-1967, para tratamento de saúde, no período de 15 a 31 de julho de 1963, de 20 de agosto a 8 de setembro de 1963.
Suplências e Efetivações:
Assumiu, como Suplente, o mandato de Deputado Federal para a Legislatura 1967-1971, em 17 de março de 1967, sendo efetivado em 24 de maio de 1967, na vaga do Dep. Walter Bezerra de Sá.
Mandatos Externos:
Deputado(a) Estadual , Partido: PSD, Período: 1950 a 1955; Deputado(a) Estadual , Partido: PSD, Período: 1959 a 1963.
Atividades Profissionais e Cargos Públicos:
Secretário, Secretaria de Assuntos Extraordinários do Ceará, 1971-1974..
Estudos e Cursos Diversos:
Liceu do Ceará; Direito, Faculdade de Direito do Ceará, 1942..
José Rangel, o escultor da estátua de Nossa Senhora
das Graças, é também autor de obras importantes no Rio de Janeiro, Fortaleza e
outros lugares.
Dia 28 de maio, terça-feira, lua crescente, dedicado
a São Germano e Santo Emílio, nascia à Rua da Baixa ( hoje Coronel Rocha), em
Jardim, José Rangel Sobrinho.
Filho do alfaiate Cirilo Leite Rangel e da
dona-de-casa Maria Bringel (Maroca).
Conforme entrevista dada a Otacílio Anselmo, ele
afirmara ter nascido a 8 de maio de 1898, contrariando as informações da
família, de J. de Figueiredo Filho e de Maria de Alacoque de Lima Pereira, que
insistem no dia 28 de maio de 1895. (
Rangel escultor: o artista que veio de Jardim, p. 19).
Rangel é o escultor da estátua de Nossa Senhora das
Graças, em frente à igreja matriz. José Rangel assim escolhera a posição da
estátua, com a cabeça reclinada levemente para a casa de sua mãe.
Por ter feito um Judas à imagem e semelhança do avô
paterno (influência da Festa dos Caretas ?), José Rangel teria sido mandado,
pela primeira vez, para Fortaleza, não sem antes levar uma surra, e morou um
ano na casa de um tio na capital.
Findo o castigo, voltou a Jardim, onde não teria
muito mais o que fazer e, seguindo os passos do irmão Genésio, foi mandado de
volta à capital cearense, aos (12) doze anos de idade. (p.27)
Em Fortaleza, José Rangel retomou os estudos e passou
a ser aprendiz de torneiro na Estrada de Ferro de Baturité, tendo se destacado
pelo fato de fazer suas próprias ferramentas de trabalho.
Teria embarcado com as tropas de Franco Rabelo, líder
do movimento que derrubou a oligarquia Acioly, para o Cariri. Tomou parte no
ataque a Juazeiro, lutou no Crato, passou por Barbalha e chegou ao Iguatu.
Integrou-se às tropas de J. da Penha e foi atingido na perna por uma bala, na
noite chuvosa de 22 de janeiro de 1914. A bala ainda estaria alojada em sua
perna em 1953.
Fugiu para o Amazonas ( essa fuga pode ter a ver com
a seca de 1915, das mais fortes que assolaram o Ceará, abandonou as muletas em
Belém e chegou ao Acre. Trabalhou como seringueiro. Retornou ao Ceará em 1817.
(p.29)
Fazia caricaturas nos bares e esculturas de areia na
Praia do Peixe. (p.30)
Sua ida para o Rio de Janeiro se deu em 1922 ou 1923.
Foi aprovado em sexto lugar (doze aprovados, de noventa e seis inscritos) no
concurso para admissão à Escola de Belas Artes.(p. 32)
Matriculado na Escola de Belas Artes, participou
ativamente da vida do Rio de Janeiro. Deve-se creditar à sua competência a
premiação na Exposição Geral com a escultura em bronze como reverência aos
'Dezoito do Forte', intitulada de 'A Epopéia do Sacrifício', homenageando o
grupo de tenentes que se rebelou, em 5 de julho de 1922, antecipando a
Revolução de 1930."(idem, p.47)
José Rangel teria esculpido, na areia de Copacabana,
as figuras do Rei Alberto e da Rainha Elisabeth, da Bélgica, que visitou o
Brasil, para as festas do Centenário da Independência, tendo recebido das mãos
do próprio monarca uma medalha de ouro.
Teria também modelado um D. Pedro II, na areia
colocada na Praça Saens Peña, ma Tijuca, Rio de Janeiro, quando do centenário
de nascimento do Imperador, em outubro de 1925. (p.34)
Ainda para o Rio de Janeiro, José Rangel esculpiu a
peça "Ad Glorium", em homenagem a Santos Dumont, a qual teria sido
colocada, segundo alguns, na porta do Galeão, Base Aérea na Ilha do Governador,
transformada em aeroporto internacional.
Também deixou sua marca em Belo Horizonte, com o
monumento a Olegário Maciel, único presidente de Estado a ser mantido no poder
depois da Revolução de 30. (p.50)
Diz-se que José Rangel era muito reservado, não
gostava de falar de si e não deixou escritos. Todos evidenciavam seu desapego
ao dinheiro e pouca atenção dada a recortes de jornais ou registros de suas
obras. (p.65)
O home maduro, aos 53 anos, quis interferir e deixar
uma obra na praça principal da cidade.
Segundo relatos dos mais idosos, como Luiz Ferreira
Gorgônio, ele teria feito uma promessa a Nossa Senhora das Graças e, alcançado
o pedido, modelou a santa em cimento cru, fincada em frente à Igreja Matriz.
(p.71)
Morreu em 11 de janeiro de 1969. No entanto há fontes
que indicam o dia 11 de novembro de 1969. (Gilmar de Carvalho IN Rangel
escultor, o artista que veio de Jardim)
O Padre Miguel Coelho de Sá Barreto, de tradicional
família caririense, nasceu em Barbalha, no dia 8 de maio de 1870. Foram seus
pais o capitão Luíz Carlos Sampaio e dona Gertrudes P. de Sá Barreto.
Concluiu os estudos eclesiásticos em Fortaleza, onde
se ordenou pelo Seminário da Prainha em 30 de novembro de 1892, com 23 anos de
idade incompletos.
Após a
ordenação, exerceu o magistério no Seminário de Crato, até sua ida para a
paróquia de Jardim, nomeado que fora em 7 de abril de 1896. A posse deu-se em 5
de maio do mesmo ano.
Durante sua permanência em Jardim, que durou 9 anos,
o padre Miguel conquistou os corações dos jardinenses, que ainda o amam como se
filho da terra fosse.
Inteligente, culto e empreendedor, o jovem levita não
se ateve apenas à prática dos atos inerentes ao sacerdócio. Foi mais além e
fundou um colégio onde, por alguns anos, os jovens da época receberam sadios
ensinamentos.
Muitos benefícios prestou o padre Miguel ao povo de
Jardim, tanto no campo espiritual quanto material. Mas quis a Divina
Providência que ele partisse para atender ao chamado do Pai. No dia 9 de
fevereiro de 1908, deixava a cidade, já doente, para a localidade Fazenda Brás,
onde faleceu às 2 horas da tarde do dia 15 de abril do mesmo ano. Seu corpo foi
conduzido dali para a capela do Riacho do Meio, município de Barbalha, onde foi
sepultado. Ao seu sepultamento compareceu uma caravana de jardinenses composta
pelas seguintes pessoas: Tenente-Coronel José Caminha de Anchieta Gondim, Júlio
Lóssio, Augusto Gouveia, José de Sá Barreto, Alfredo Rocha, José Morais,
Alencar Filho, Antônio Barreto, Manoel Jorge, João Landim, João Barreto,
Vitorino Barreto Couto de Alencar e João Sabino.
Segundo consta, morreu vitimado por lesão cardíaca,
mas para os jardineses que o consideram santo, morreu para não violar os votos
de castidade. Ainda existem muitos parentes seus residindo em Jardim. Sua morte
aos 39 anos, foi muito sentida.
O Dr. Napoleão Tavares Neves, na revista Itaytera nº
30, afirma que talvez o sacerdote tenha sido acometido de uma cardiopatia chagástica.
Trata-se de um diagnóstico provável, segundo acentua, já que se trata de uma
doença antiga e havia, na época, como hoje, barbeiro na zona rural de
Barbalha."(idem p.13)
Sobre o padre Miguel assim se expressou um dos seus
biógrafos: "Foi um sacerdote de vida sem jaça, inteligente, orador fluente
e empolgante, cuja palavra arrebatava os ouvintes".
Foi uma das glórias do clero cearense, considerado o
primeiro orador sacro do Ceará. (Jardim: sua história e sua gente, p. 39,40)
Foi de Flores, no Pajeú, que
saiu o padre João Bandeira de Melo, em 1792. É de Flores, Teodora, a mãe de
Bárbara Pereira de Alencar e de Leonel Pereira de Alencar, o mesmo que foi
morto aqui em Jardim, em 1824, e tem uma rua com seu nome.
Sobre Flores e a mãe de Teodora, Juarez Aires de
Alencar nos diz: "Aquém do São Francisco, nos sertões do grande cacique
Pajeú, manda Ana Rosa, a grande senhora da Fazenda Carnaúba, cujos campos não
tem limites, a não ser para as bandas do grande rio. Os seus vaqueiros correm
todos os campos porque são aliados de todos os caboclos, com quem apostam
corridas desabaladas nas várzeas largas, onde se levanta sempre um curral para
o ajuntamento do gado tresmalhado. José Arnaud além da chapada, Ana Rosa (D.
Antonia Pereira Rosa) aquém da mesma, são os únicos senhores brancos que
estendem o seu domínio sobre as Caatingas. Araripe nos campos do rio Açu, e
Pajeú, no rio que tem o seu nome, são os dois grandes tuxauas que dividem, com
braço forte, o mando sobre os povos bronzeados das Caatingas. (Dona Bárbara do
Crato,p.17)
Espaço da Praça Joaquim Alves antes da construção.
Praça Joaquim Alves em 1984. A conhecida Praça dos Correios.
Primeiro que tudo, é bom que se saiba, que Jardim teve 2(dois) Joaquim Alves de importância para a história do município. Tivemos Joaquim Alves da Rocha, mais conhecido por Coronel Rocha, elevou Jardim à categoria de cidade. E Joaquim Alves de Oliveira.
Joaquim Alves de Oliveira nasceu em Jardim (CE) em 10 de fevereiro de 1894 e morreu em Fortaleza (CE) aos 8 de junho de 1952.
Filho de Miguel Alves Tinín de Oliveira e de Maria Magalhães de Oliveira.
Formado em Odontologia pela Faculdade de Farmácia e Odontologia do Ceará (1920).
Andou praticando clínica odontológica nos sertões cearenses, mas voltou para Fortaleza, dedicando-se ao magistério público e particular; foi catedrático do Instituto de Educação Justiniano de Serpa e da Faculdade de Ciências Econômicas do Ceará, sendo ainda Inspetor
Regional do Ensino. Ingressou na Academia Cearense de Letras em 15 de agosto de 1951;
Também, no Instituto do Ceará (Histórico, Geográfico e Antropológico), com posse em 6 de janeiro de 1943. Um dos criadores do Grupo Clã.
Dos seus escritos, dois textos evidenciam o escritor naturalista:
• ALVES, J. O Vale do Cariri. Rev. Inst. Ceará, Fortaleza, t. 59, p.94 - 133· 1945·
• __ . Historia das Secas (Séculos XVI/ a XIX). Mossoró: Fund. Guimarães Duque, 1953. 243 p. (/Coleção Mossoroense ). ; 2. ed., 1982
Fonte: Os naturalistas da Academia Cearense de Letras Autor: MelquíadesPinto Paiva(Professor titular (aposentado) da Universidade Federal do Ceará. Sóciocorrespondente da Academia Cearense de Letras. )
Quando de sua morte em 1952, a revista do Instituto do Ceará publicou um artigo intitulado A morte de Joaquim Alves, autoria de Florival Seraine:
" Joaquim Alves era o rebento do Cariri, o homem da Praça do Ferreira, o cearense, o filho deste Nordeste tormentoso e bravo. Tudo isso com espontaneidade, medular e superiormente traduzido.
A sua vida era plena, elevada de natural sinceridade (...) Os valores éticos transpareciam na dignidade e na pureza do seu viver; os seus atos eram claros e imbuídos de franqueza (...) Era homem de tendências sociais, amante das conversações urbanas, dos ruidosos e animados colóquios citadinos.
Procedia Joaquim Alves de conhecidas famílias do sul do Estado - Alves de Matos e Rocha, pelo ramo do seu genitor; Magalhães Lacerda e Furtado pela ascendência materna. Consorciara-se a primeira vez com D. Josefa Batista de Oliveira elemento de abastada e digna estirpe cearense, e em segundas núpcias com D. Milza Xavier de Oliveira.
Seu filho, Dr. Elisio Alves, engenheiro civil pela Escola Nacional de Engenharia, pertence ao corpo técnico do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística; sua filha Sta. Maria Helena Xavier Alves é dedicada acadêmica de Medicina no Rio de Janeiro - Fernando Roberto Xavier Alves, cursa o 2º ano do Colégio Castelo, nesta capital(1952).
Compõe a bibliografia do nosso ex-companheiro de lides culturais as seguintes obras:
*Nas fronteiras do Nordeste, de 1929;
*Estudos de Pedagogia Regional , de 1939;
*Autores Cearenses, de 1949;
*História das secas no Ceará (obra póstuma);
Divulgou vários artigos de cunho científico:
*O Ceará e suas regiões naturais. Na Revista da Sociedade Cearense de Geografia e História, números 1,2 e 4;
*Aspectos antropogeográficos do cangaceirirsmo. Na revista acima citada, números 1 e 3;
*Introdução às ciências geográficas. Na Revista do Professor, de São Paulo, n 15;
*As migrações do São Francisco para o Vale do Cariri. No Jornal do Comércio, do Rio de Janeiro, de 21 de outubro de 1934;
*Clima e alimentação do Nordeste. No Jornal do Comércio de Recife, edição de 2 de maio de 1937;
*Alimentação das populações rurais. Em O Povo, de Fortaleza, ns 14 e 15 de janeiro de 1935;
*Afrologia brasileira. Na Revista da Sociedade Cearense de Geografia e História, em 1939;
*Clima cearense. Idem;
*Evolução social dos sertões. Em O Ceará, de Fortaleza;
*Ensino profissional rural. Na Revista do Professor, de São Paulo, n 16, de 1936;
*Juazeiro cidade mística. Na Revista do Instituto do Ceará, volume de 1948;
*O Vale do Cariri. Apresentado ao X Congresso Brasileiro de Geografia, do Rio de Janeiro, aprovado e mandado publicar nos Anais desse conclave, saída a lume em 1946, na Revista do Instituto do Ceará.
A Antropologia e a Pedagogia foram, destarte, as ciências que concentraram as atenções de Joaquim Alves, embora certa preocupação sociológica transparecesse em inúmeros passos da sua obra.
A começar pelo seu livro de estreia - "Nas fronteiras do Nordeste", que a crítica recebeu de modo assaz lisonjeiro e de logo o consagrou figura meritória das letras regionais, até alcançar seu último trabalho editado "Juazeiro cidade mística", faz referência a determinados fenômenos sociais, ao abordar temas de nossa realidade cultural.
Destaca-se mormente nas apreciações de livros históricos, geográficos ou etnográficos, e procura encarar, não raro, as produções focalizadas do ângulo de uma compreensão sociológica da obra de arte.
Na posição de crítico, jamais revelou atitudes de irreverente censor das produções alheias, preocupado em acentuar deficiências, incapaz de discernir qualidades no autor analisado.
Ao contrário, sua crítica literária parece-nos executada com o objetivo secreto de difundir a produção dos seus conterrâneos: seria outra obra de altruísmo, de pura fraternidade, saída da sua pena de escritor. Pois - e aqui indicamos novo aspecto da personalidade de Joaquim Alves - desde a sua juventude, em 1919, quando elabora os seus primeiros artigos para a imprensa, e funda com outros espíritos emancipados o Partido Socialista Cearense, desde as suas primícias literárias foi um preocupado com a "questão social", conservando pela vida em fora o seu interesse pelos problemas coletivos.
Joaquim Alves nunca se esmerou em façanhas extraordinárias, nem buscou posar para a posteridade.
A sua grandeza decorria principalmente da unidade orgânica, a coerência entre a sua obra e a sua vida.
Entre as ideias que propalava e lhe cabia realizar, como intelectual e mestre da juventude, e a sua conduta na órbita social: a ética veraz da sua existência.
Nesta homenagem que o Instituto do Ceará, através de nossas pálidas expressões, rende à memória do nosso falecido consócio, procura-se, além de demonstrar a dor que nos atingiu pelo seu passamento e a consciência da vultosa perda humana que o Ceará recentemente sofreu (1952), apontar às novas gerações o exemplo de uma vida autêntica a admirar e a seguir."
(Florival Seraine. Revista do Instituto do Ceará, 1952. Págs: 30, 31, 32, 33, 34 e 35.)
A academia Cearense de Letras, quando de seu falecimento também publicou:
No dia 8 de Junho de 1952 faleceu nesta capital o ilustre escritor cearense Joaquim Alves, membro efetivo da Academia Cearense de Letras e do Instituto do Ceará. Foi uma figura de autêntico merecimento que nos círculos literários de Fortaleza granjeou justa notoriedade, pela realização de uma obra importante que firmará seu nome entre as mais belas expressões mentais de nossa terra. Lançando-se a assuntos de grande monta e responsabilidade no campo dos fenômenos sociais, econômicos e educacionais, conseguiu deixar uma notável bagagem literária como se pode ver dos seus livros: "Nas Fronteiras do Nordeste" (1929); Estudos de Pedagogia Regional (1939); "O Vale do Cariri" (1948); "Juazeiro, cidade mística" (1949); "Autores Cearenses" (1949); "Ceará e suas Regiões Naturais" e "História das Secas", a publicar. Além disso, farta e variada colaboração permanente se acha em jornais e revistas, que dará outros tantos volumes interessantes.
Na maior simplicidade e modéstia, sem a vaidade dos que fazem do saber um monopólio, exerceu Joaquim Alves o melhor de sua atividade mental evitando alarde em torno de sua pessoa, com a nobre compreensão ela dignidade do seu destino entre os seus semelhantes.
Assim foi que, apesar da diferença ele mais de vinte anos, tomou parte saliente entre os rapazes de "Clã" e da ABDE ", confundindo-se com eles, no esforço comum desse movimento da mocidade cearense em prol do engrandecimento das nossas letras. E no cooperar com esse grupo, debatia as questões suscitadas com vivacidade de ânimo como se fosse o mais jovem de todos. Daí porque a sua morte causou profunda consternação entre os seus companheiros e a revista "Clã" dedicou-lhe páginas de tocante homenagem.
No "Instituto do Ceará" ou na "Academia Cearense de Letras", foi, também, um dos elementos mais profícuos e brilhantes. Com todas as iniciativas ou deliberações compartilhava, assiduamente, com aquele entusiasmo e alegria que eram as características principais do seu sadio espírito sempre disposto ao trabalho e aos cometimentos altruísticos. Sua morte deixou um vazio difícil de preencher. Grande foi a tristeza da perda do magnífico companheiro, que continuará a viver na saudade de todos nós. (fonte: Revista da Academia Cearense de Letras, Sessão Os Nossos Mortos,1953, pág 190)
No dia 30 de janeiro de 1885, no Sítio Engenho
D'água, nascia Madre Ana Couto (Ana Álvares Couto). Foram seus pais Cláudio
Álvares Couto e Eponina Marques de Gouveia.
No dia 23 de janeiro de 1923, recebeu convite de Dom
Quintino Rodrigues de Oliveira e Silva, 1º Bispo de Crato, para tratar da
fundação de um colégio e simultaneamente uma congregação religiosa.
Vislumbrava-se assim 'Naninha' a possibilidade de entregar-se ao serviço de
Deus.
No dia 4 de março do mesmo ano, juntamente com
algumas companheiras, funda a Congregação das Filhas de Santa Teresa, com sede
em Crato, da qual passa a fazer parte como Superiora Geral.
No dia 15 de outubro de 1924, emitiu os votos
religiosos e no dia 31 de janeiro de 1933 fez sua profissão perpétua.
Apesar da pouca cultura que possuía, dedicou-se à
causa da educação, fundando colégios em Iguatu e Icó, além do tradicional
Colégio Santa Teresa, de Crato, responsável pela educação de centenas de jovens
das mais tradicionais famílias caririenses.
Madre Ana Couto não foi somente a religiosa de muitas
virtudes e a educadora devotada. Foi o farol que iluminou o caminho espiritual
de seus familiares. Dois de seus sobrinhos se tornaram padres e duas sobrinhas,
religiosas.
Após 23 anos dedicados ao reino
de Deus, falece Madre Couto. Era o dia 31 de janeiro de 1947." (Jardim:
sua história e sua gente, p. 134)
Nas palavras
do artista plástico de Jardim, Luis Lemos: "As primeiras manifestações dos
caretas na cidade de Jardim datam de finais do século XIX. Inicialmente a festa
era realizada na zona rural e constituía-se de uma comemoração pelo término da
colheita. Os agricultores confeccionavam uma espécie de espantalho ao qual lhe
davam o nome de "Pai Véi" ou "Vosso Pai".
No final da
colheita, mascarados, com chocalhos, chicotes, percorriam vários sítios pedindo
donativos para o sítio de Pai Véi. Faziam uma grande festa e, ao final, o
malhavam.
Talvez pela
proximidade da semana santa, a festa tenha assumido alguns aspectos religiosos,
e o Pai Véi foi substituído pelo Judas Iscariotes, quando passou a ser
realizada na zona urbana."
De acordo com dados do Arquivo
Público do estado do Ceará, de 1883, em Jardim haviam:
Escravos matriculados na zona rural; homens, 137.
Mulheres, 98. Na zona urbana; homens 9. Mulheres 89. Sem profissão específica;
homens, 94. Mulheres, 99. Total 526.
A cólera não teve início na Europa, mas sim na Ásia,
daí ser chamada de "cólera asiática" pelos epidemiólogos.
Surpreendentemente, a historiografia sobre esta doença temível, causada pelo
bacilo Vibrio comma, dá maior destaque a seus efeitos sobre as
populações européias do que sobre as asiáticas. Tem-se notícia da primeira
aparição epidêmica na Europa em fins do século XII ou início do XIII. Ainda que
a cólera tenha feito suas primeiras vítimas nessa época de ampliação dos
contatos entre Europa e Oriente, foi no século XIX que ela marcou profundamente
a história da humanidade, originando-se dos seus nichos ecológicos na
Índia -um permanente foco de reprodução do bacilo ainda em nossos dias -e
propagando-se da região de Bengala e do Delta do Ganges por toda a Europa e
Américas. A partir de 1850, a navegação a vapor e o transporte ferroviário
intensificaram os deslocamentos populacionais e as trocas comerciais. Das
antigas rotas brotavam outros cursos da doença. O Brasil não tardaria a
incluir-se nos novos itinerários.Em 1855, os portos brasileiros já acusavam
os primeiros casos de infecção colérica.
Em fevereiro de
1862, o Ceará foi invadido por uma epidemia de cólera que matou grande parte da
população. O "Cólera Morbus". Foram acometidas as cidades de Icó,
Lavras (Lavras da Mangabeira), Maranguape, Crato, Várzea Alegre, Tauá, São
Bernardo de Russas, União, Poço da onça, Passagem de Pedras (Itaiçaba),
Aracati, Iguatu, Sucatinga, Pacatuba, São João do Príncipe, Acarape (Redenção),
Arneiróz, Marrecas, (Parambu) Fortaleza, Milagres, Jardim, Jubaia, Tabatinga,
Sapupara, Jereraú, Limão, Urucará e Boa Vista. (Da dissertação: Um Século de
Cólera; Itinerário do Medo. De Luiz Antonio de Castro Santos,1994).
5 de abril de 1862,
surgiu o cólera-morbo em Milagres, no distrito de Coité, onde vitimou 105 de
seus habitantes. Em toda a comarca milagrense foram atacadas 4.270 pessoas, das
quais faleceram 730.
23 de abril de 1862, foi atingido o Jardim
pelo cólera-morbo, no lugar Poço, que se extinguiu em fins de junho, tendo
feito 66 vítimas. Passou à vila, onde em 18 dias ceifou 200 vidas. Em todo o
município foram atacados 3.370 indivíduos, dos quais morreram 550.
Em 30 de abril de
1862 em Crato com 1.100 mortes e em 12 de maio de 1862, em Missão Velha, com 36
mortes. (OCariri pág. 130 e Efemérides
do Cariri, págs.147, 148)
Sobre o vício de jogar, ao qual se refere Gardner
(1838), que era veraz observador, digamos que se não restringia ao Crato, mas
campeava infrenemente em todo o Cariri.
Em 1856, em seu número de 10 de maio disse " O
Araripe": É domingo. Os ricos jogam a espadilha, as mulheres a sueca, o
pobre o vinte e sete, o cativo ou o frecha ou o cacete. O que é um jogo de
paradas, a portas fechadas, com um baralho aparado, uma botija de aguardente a
um canto, uma faca ao cós! Um crime... dois crimes... muitos crimes...! Mas é
isto o que vemos diariamente no Crato, mesmo na prisão da sala livre, na
Barbalha, no Jardim, em Porteiras, em cada vila, em cada povoação ou
sítio, em cada canto finalmente. Cumpre que a polícia acabe com isto, ao menos
para que daqui a pouco se não suponha que jogar é profissão lícita; por que se
isto se deixa encasquetar ao povo, adeus enxada! Não há quem não prefira viver
jogando a andar quebrando as unhas por essas bibocas. (PINHEIRO, Irineu. O
Cariri: seu descobrimento, povoamento, costumes. pág. 79)
(Jardim homenageou o Conego Penafort com o Grupo Escolar Conego Penaforte)
(O Grupo Escolar Conego Penaforte foi Secretaria de Educação e a partir da década de 1990, foi a Prefeitura Municipal de Jardim. Ilustração de José Márcio da Silva)
1855 - CÔNEGO PENAFORT
Nasceu, em Jardim, o cônego Raimundo Ulisses Penafort.
Foram seus pais Manuel Francisco Cavalcante de Albuquerque Melo e dona Generosa
Cândida Brasil de Albuquerque Penafort. Ordenou-se em 2 de maio de 1880 no
seminário do Carmo, em Belém do Pará, sob o episcopado de D. Antônio de Macedo
Costa. Colaborou em jornais do Ceará e do Pará, escreveu várias obras de cunho
religioso e histórico que lhe abriram as portas de muitas associações
literárias e científicas. (Efemérides do Cariri, p.140)
O Cônego Penafort, como era mais conhecido, estudou
no Seminário de Crato, tendo-se ordenado Padre em Belém do Pará, no dia 2 de
maio de 1880, pelo então Bispo do Pará, D. Antônio de Almeida Costa. Em 1892
foi feito Cônego. Exerceu o vicariato de 1902 a 1909. Em 25 de abril de 1921,
aos 65 anos de idade, encontrou a morte no Leprosário Paraense de Tucunduba. Antes
de morrer, sofrera sérias perseguições por parte de políticos da época, a ponto
de ser banido de Vigia em uma piroga com três remadores. Foi homem de
invejáveis dotes intelectuais, um dos maiores etnólogos brasileiros, além de
grande orador. Jornalista destemido e escritor de escol, colaborou com inúmeras
associações e institutos culturais, não só do Brasil como do exterior. Foi
membro correspondente da Academia Cearense de Letras, de cuja entidade é
patrono da cadeira 32, membro cooperador de 'La Union Católica del Peru', da
'Academia Poliglota da Itália' e da 'Societé Asiatique de Paris'. Em vida foi
amigo dos pobres e das crianças, o que demonstra quão puras e desinteressadas
eram suas intenções. (Jardim: sua história e sua gente p. 132)
O General Pedro
Labatut reforçou as tropas que sitiavam a capital baiana com a Brigada do Major
(depois coronel) José de Barros Falcão de Lacerda,
composta por 1.300 soldados de Pernambuco, Bahia e Rio de
Janeiro, que repeliu três ataques portugueses, ocasionando 80 mortes e deixando
outros 80 feridos. A Batalha de Pirajá, como ficou conhecida, foi o
principal confronto da Independência da Bahia.
O general
francês chegou ao Brasil em 1819, mas só em 3 de julho de 1822 no Rio de
Janeiro, a convite do príncipe
regente Dom Pedro, e pelo ministro do Reino e dos Negócios
Estrangeiros, José Bonifácio de Andrada e Silva,
foi contratado e admitido ao posto de brigadeiro,
em razão da carência de oficiais no exército recém-organizado. No mesmo ano, em
8 de dezembro, venceu as forças de Madeira, no importante combate de Pirajá.
Organizou o
chamado "Exército Pacificador" e seguiu com as suas tropas para
a Bahia,
na esquadra comandada pelo Chefe de Divisão Rodrigo de Lamare, composta por
uma fragata,
duas corvetas e
dois brigues,
com a missão de enfrentar o general português Inácio Luís Madeira de Melo, ali
entrincheirado e em desafio ao Regente. Venceu os portugueses na Batalha de Pirajá.
Guerra de Independência
do Brasil
O Exército Pacificador
na Bahia
Na região
da Bahia,
sucederam diversas lutas para impedir que o Brasil
se tornasse independente de Portugal.
Foram meses de luta, batalhas em diversos pontos do Recôncavo Baiano, sendo a
mais famosa a de Pirajá, bairro de Salvador,
que foi palco das principais lutas, onde segundo consta, o corneteiro Luis
Lopes decidiu a vitória após trocar o toque para "cavalaria, avançar e
degolar". Os portugueses, surpresos por tal atitude (que era impossível,
já que na batalha não havia cavalaria brasileira), entraram em choque e recuaram,
dando abertura às tropas brasileiras a atacaram com força entusiasmo, vencendo
o confronto.
O general
organizou grupos armados dispersos, até então sob comando de civis, em um
exército rígido, disciplinado e, acima de tudo, fiel ao imperador D. Pedro I. Com
o intuito de cessar os conflitos entre brasileiros e portugueses que
resultaram nas lutas pela independência na província da Bahia.
Labatut, fez
diversas promessas para conseguir mais combatentes para o seu exército, dentre
elas riqueza, prestígio e até a liberdade para que os escravos alistassem. O
general foi bem rigoroso para manter a ordem das tropas, utilizando de castigos
físicos para não escravos, atitudes que contrariaram muitos os Senhores de Engenho.
Em novembro
de 1822 cerca
de 51 negros aquilombados foram executados, ordenados pelo general francês
Pedro Labatut, comandante do Exército Pacificador da Bahia. Segundo o relato do
próprio Labatut:
"mesmo
presos e amarrados, insultavam os nossos com o nome de 'caibras', que lhes foi
ensinado pelos lusitanos; eu os mandei fuzilar [...].
Labatut teve
grande êxito durante sua liderança nas forças patriotas, vencendo batalhas
importantes, como A Batalha de Pirajá e a derrota da Armada Portuguesa
quando estes tentaram reocupar a Ilha de
Itaparica.
O general
francês comandou o Exército Pacificador durante grande parte da campanha
militar e esteve como líder das tropas até uma conspiração organizada pelos
comandantes do seu exército que o depuseram do comando, e mesmo com o sucesso e
vitórias militares obtidas, acabou sendo preso em 24 de maio de 1823.
A chegada do
militar francês Pedro Labatut ao cenário de guerra no estado da Bahia mudou o curso
das ações bélicas. Além de trazer um intimação para que o general Madeira de
Mello desocupasse Salvador, Labatut levou ordens expressas para transformar
aqueles grupos armados sob o comando do Conselho Interino de Cachoeira.
No entanto, a
guerra alterou altamente a ordem social escravista, da mesma forma que os
conflitos em outras territórios das Américas afetaram algumas sociedades. A
necessidade de mão-de-obra militar levou os patriotas a abandonarem a exclusão
de não brancos das forças armadas regulares (o exército), vigente na
época colonial, e contribuiu à fácil aceitação
de trabalhadores escravos em funções militares auxiliares.
Recrutamento de
escravos para Guerra
Na Bahia houve um
recrutamento de escravos , que não foi ordenado nem ajustado por lei. Pierre
Labatut, o general francês já veterano em guerras, liderou as forças patriotas
na Bahia,
recrutou e alistou escravos que foram confiscados de senhores de engenho portugueses que
estavam ausentes.
Embora Labatut
tivesse solicitado autorização formal para tal alistamento da junta patriota
local, o Conselho Interino do Governo, ele não a recebeu, e eventualmente foi
afastado do comando num golpe sereno em maio de 1823 , por motivos
que não estavam ligadas diretamente ao seu empenho em recrutar escravos para as
lutas.
A vitória
exigia a solução das questões deixadas por esse "recrutamento" de
escravos, o que veio na forma de um decreto imperial que sugeriu a libertação
de todos os escravos que tivessem lutado como soldados, por meio de indenização
monetária aos donos que não pudessem ser convencidos a libertar espontaneamente
seus escravos. No entanto, esse decreto e as libertações compensadas resultaram
em processos prolongados nos quais senhores defenderam fortemente o seu direito
de propriedade fundamento da não-intervenção do Estado nos
direitos senhoriais.
Esses escravos
que participaram da guerra como soldados foram enfim libertados, porém
permaneceram como soldados na guarnição do exército brasileiro em Salvador. A
presença desses ex-escravos incomodava as autoridades e elites locais. Sua
participação no Levante dos Periquitos, em
fins de 1824,
forneceu a justificativa para a transferência dos soldados negros e libertos
para fora da região.
Apesar de seus
triunfos, as atitudes do General Labatut em relação tanto às tropas quanto
aos senhores de engenho da Província estava
gerando um grande descontentamento. Segundo os relatos do Conselho de Governo
Interino, situado na cidade de Cachoeira,
o general francês se considerava a maior liderança da Bahia, desrespeitando as
decisões deste órgão, ordenando a prisão e o espancamento de soldados, o que
provocou uma conspiração para destituí-lo de seu posto.
Desconfiado de
alguns movimentos para o depor, o militar francês ordenou a prisão do
coronel Felisberto Gomes Caldeira e Joaquim Pires de Carvalho e
Albuquerque D’Ávila Pereira. Determinou, ainda, que o coronel Lima e
Silva atacasse o 3º Batalhão que havia se rebelado após a prisão de Felisberto.
Em 21 de maio de
1823, Lima e Silva, com o apoio do Conselho Interino de Governo,
reuniu vários oficiais e decidiram não cumprir as ordens, em seguida depuseram
Labatut e o prenderam.
Expedição ao Ceará
Em 7 de
julho de 1832,
a Regência o convocou para chefiar uma expedição ao Ceará,
com o objetivo de prender Pinto Madeira e devolver a paz aos
habitantes da província. No dia 23 de julho, Labatut chegou ao Ceará,
trazendo 200 homens, quase todos negros. Mas somente em 31 de agosto,
veio ele ao teatro da Guerra do Pinto, iniciando sua missão pela Vila de Icó.
Então, o
militar francês lançou uma proclamação aos revoltosos convidando-os à
rendição, mediante promessa de clemência. Ofereceu garantias a Pinto Madeira e ao padre Antônio Manuel de Souza para
estes se entregarem, o que ambos fizeram, em 12 de outubro de 1832, com a promessa de
serem enviados ao Rio de Janeiro, onde teriam um julgamento
imparcial.
Labatut possuía
muita experiência e logo percebeu que as notícias chegadas à capital do Império
sobre a Guerra do Pinto, estavam um pouco equivocadas. Acampado no Cariri,
constatou que Joaquim Pinto Madeira, mesmo obtendo
algumas vitórias, nunca ultrapassou os limites de Icó. A capital
da província, os portos cearenses, a rota entre Aracati e Icó nunca
saíram das mãos do governador da Província e da Regência. Além disso,
Labatut não precisou de muitos esforços, pois a Guerra do Pinto já havia
sido vencida pelo governador da província, José Mariano. Tudo isso
tranquilizou o general Labatut, pois sua missão não necessitava promover
lutas e sim viabilizar o apaziguamento da população.
Foi o que ele
fez, tendo oportunidade de cumprir, com isenção, sua missão. Para evitar
que os dois chefes rebeldes fossem executados por seus inimigos do Ceará,
enviou-os a Recife,
sob a guarda de um oficial de sua plena confiança. Em 14 de outubro,
Labatut fez um ofício de esclarecimento, ao Ministro da Guerra da Regência:
“(...) Tenho a
honrosa satisfação de ver quase concluída a comissão que a Regência do Império,
em nome do Imperador, me há encarregado, sem derramar uma só gota de sangue
brasileiro. Remeto a V.Excia., por intermédio do presidente de Pernambuco, o
ex-coronel Joaquim Pinto Madeira e o vigário de Jardim, Antônio Manoel de Sousa
que, sob condição de conservar-lhes as vidas, e remetê-los para essa
Corte, se me vieram apresentar no acampamento de Correntinho, em virtude de
minha proclamação de 22 de setembro próximo passado, cuja cópia ofereço a
V.Excia. Eles vieram acompanhados de muitas famílias que foram ao seu encontro
nos desertos e montanhas por onde passavam. Estes dissidentes, em número de
1.590, prontamente me entregaram as armas da nação que empunhavam. Exmo.Sr., a
maior parte das intrigas durante o reinado do terror, que felizmente passou, compeliu
estes povos a hostilizarem-se de modo tal que geme o coração mais duro, à vista
dos incêndios, mortes arbitrárias e roubos praticados até pelas tropas do
presidente desta província (...)
“Como,
pois, poderão ser julgados os réus por juízes inçados da mesma opinião dos
partidos que assolam a província? Por isso rogo a V.Excia. se digne de atender
ao meu último oficio do Icó, em que, conhecendo cabalmente os males que
acabrunham a nova comarca do Crato, eu pedia juízes íntegros, justos e sábios
por não haver um só letrado, em toda ela, os de paz e ordinários são mui leigos
e pertencem a um e outro partido. (...)
“Estou pronto a executar as
ordens do governo supremo, conservando-os submissos como ora se acham, em vista
da brandura com que os tenho tratado, mas necessito de juízes com hei
demonstrado. (...) A intriga, desgraçadamente, deu vulto a cousas em que nada
ofendiam as leis. É falso, como aqui se dizia, que Joaquim Pinto Madeira
proclamara e defendia a restauração e queria reproduzir aqui as cenas
sanguinolentas do S. Domingos francês (referia-se à revolta dos escravos
negros no Haiti). O governo mandando juízes letrados imparciais conhecerá a
fundo os verdadeiros culpados. O coronel de milícias Agostinho Tomás de Aquino
e o tenente de primeira linha Antônio Cavalcante de Albuquerque (ambos
das tropas do presidente da província) cometeram horrorosos atentados contra os
direitos civis, vidas e propriedades de seus concidadãos, sem escapar sexo nem
idade. Seria um grande benefício para a humanidade atrozmente ofendida, e para
a tranquilidade da Província, que V. Excia. os mandasse recolher à Corte e
devassar as suas condutas. Fez-se guerra de bárbaros, mataram-se prisioneiros,
queimaram-se casas, legumes, mobílias, roubaram-se gados, confiscaram-se os
bens dos dissidentes.“Deus guarde a V.Excia. Sr. brigadeiro Bento Barros
Pereira, Ministro da Guerra – Pedro Labatut, general comandante das tropas do
Ceará. Crato, 14 de outubro de 1832”.
Em 1839, já
como Marechal de Campo, foi designado para combater os "farapos", no
sul, na Revolução Farroupilha contra Davi
Canabarro, seu batalhão chegou a Passo Fundo aniquilado
em setembro de 1840.
onde fracassou. Em 1845 foi definitivamente reformado, residindo no Rio de
Janeiro até 1847, quando se transferiu para a Bahia.
Legado
Pedro Labatut
recebeu o título de Marechal-de-campo ainda
em vida. Deixou o serviços como militar em 1842 e faleceu em
Salvador na antiga rua dos Barris, via que hoje recebeu o nome de rua General
Labatut e seus restos mortais estão em uma urna no Panteão de Pirajá; Foi o
bisavô do almirante Alexandrino Faria de Alencar, reformador
da Armada Brasileira, senador e ministro da
marinha.
O militar
francês teve um papel de extrema relevância na Independência, pois ele
conseguiu transformar civis, cuja maioria deles eram trabalhadores humildes
(negros, índios e caboclos), em um exército disciplinado que conseguiu derrotar
e retirar os portugueses da Bahia.
No interior do
Nordeste,existe a lenda do Monstro
Labatut,tendo este recebido o nome por causa do Militar.