POVOAMENTO DE JARDIM
Até os fins do século XVIII, era ainda a Vila do Jardim, um sítio inteiramente desconhecido. Segregado, como está, com focos de população do Cariri pelo prolongamento da parte meridional do Araripe, que o separa, por um deserto de seis léguas, das freguesias da Barbalha e Missão Velha, não tendo participado da imigração que havia povoado estes lugares. Até 1792, do local em que está hoje a Vila do Jardim, o colono que mais se avizinhava era um pobre lavrador, com casa a meia légua, no sítio Cabeça do Negro; e dos terrenos que formam hoje o seu termo, eram habitados tão somente a Serra do Mato, na falda oposta do Araripe, e os sítios de criar, muito longe à margem do ribeiro Jardim, que, unido ao Croatá, pode ser considerado origem do Riacho dos Porcos e, por isso, do Rio Salgado.
A famosa seca que nesse ano assolou
os sertões do rio São Francisco e outros determinou uma considerável emigração
de povos que, carecidos de abrigo, se encaminharam para o Jardim, que é
precisamente o ponto mais contíguo daquele grande rio, onde havia terras
capazes para o plantio de cereais e de mandioca, mesmo no rigor daquela seca,
cujos horrores são conhecidos.
O primeiro imigrado que veio acolher
ao Jardim, perseguido da calamidade de 1792, foi o padre João Bandeira, homem
inquieto e empreendedor, que fazia profissão de longas viagens pelos sertões do
Piauí e outros, muito afeito às lutas contra a natureza e contra os homens
quase bárbaros dessa parte do Brasil, e com reputação de valente, que o fazia
respeitado por toda parte.
Em chegando, seu primeiro cuidado
foi promover o plantio de alguns cereais e edificar uma casa de barro, no local
em que existe agora a casa que serviu de moradia ultimamente ao vigário Antonio
Manuel de Souza.
A presença de um sacerdote atraiu
para ali muitas outras pessoas, que construíram uma capela em frente à casa do
padre Bandeira, no mesmo sítio em que se elevou depois o templo inacabado que
serve de matriz. Em torno edificaram mais algumas casinhas, para residir junto
ao capelão; e eis a origem da povoação, hoje vila do Jardim.
Um sacerdote, naqueles tempos, era
raro, e o povo sentia a maior necessidade de se prover dos recursos
espirituais. Havia, portanto, um arraial onde existia um sacerdote.
O padre Bandeira, insofrido da vida inativa que levava, passados alguns tempos, retirou-se como viera, isto é, com sua espada à cinta e acompanhado de um seu escravo; mas já tinha vindo outro sacerdote, que, celebrando a missa aos domingos, continuou a entreter a população que se havia arrailado. A povoação dependia, no espiritual da jurisdição de Missão Velha e, no temporal, da Vila do Crato.
FONTE: CEARÁ: HOMENS E FATOS. JOÃO BRÍGIDO DOS SANTOS.
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